Crítica | A Grande Jogada

A Grande Jogada estreou ontem (22) nos cinemas brasileiros. O filme, baseado em fatos reais, conta a história de Molly Bloom. Molly é uma empresária americana responsável por organizar os maiores jogos privados de poker de Los Angeles e Nova York da década passada. Ela foi detida em 2013 acusada de promover jogos ilegais. Seus jogos bombavam por conta da sua clientela privilegiada: astros de Hollywood, executivos de multinacionais e esportistas famosos.

A verdadeira Molly Bloom (esquerda) e Jessica Chastain (direita)

Com o fim de seus jogos, a empresária decidiu escrever um livro contando a sua história. O livro tornou-se sua principal fonte de renda e serviu de inspiração para o filme.

Uma Estreia Competente

A adaptação cinematográfica é dirigida e escrita por Aaron Sorkin. Apesar de ser veterano nos roteiros, A Grande Jogada é o primeiro filme dirigido por Aaron e adiantamos: ele mandou bem. A principal marca de Aaron, os diálogos inteligentes e com tons de confronto se fazem presentes. A genialidade de Aaron com palavras é comprovada pela indicação do filme ao Oscar de Melhor Roteiro Adaptado.

Em relação ao visual, o filme usa tons escuros, fundindo-se ao charme do poker, mas deixando sempre a protagonista em destaque.

A Dona do Show

Por falar em protagonista, a dona do filme é claramente Jessica Chastain. A atriz entrega uma performance de ponta, mostrando mais uma vez por que é considerada uma das melhores atrizes de Hollywood em atividade. Graças a interpretação fenomenal de Jessica, Molly ganha uma representação fiel e marcante.

Funcionando como uma espécie de reprise do seu papel em Miss Sloane, Chastain vive uma mulher competitiva que chega ao topo em um mundo de homens. Com uma vida marcada por abusos, inicialmente por parte de seu pai frio e exigente interpretado por Kevin Costner, e depois por um chefe babaca que a trata como lixo, Molly passa a usar os homens como escada para o sucesso.

Larry Bloom interpretado por Kevin Costner

A principal arma de Molly é a sua própria inteligência. Ao mesmo tempo que ela atiça os homens para participar de seus jogos privados, ela repele os avanços amorosos dos mesmos, mantendo um alto nível de profissionalismo. Em uma passagem do filme, a personagem afirma que se começasse a se envolver romanticamente com seus clientes, o negócio viria a ruir.

O que Molly não contava é que a recusa desses relacionamentos também poderiam fazer o negócio ruir. Após ações tomadas pelo Jogador X, personagem baseado em Tobey Maguire, Molly perde o seu império em Los Angeles. É nesse momento que Chastain brilha ainda mais, exibindo os conflitos internos de uma mulher guerreira em seu momento de maior fraqueza.

Jogador X interpretado por Michael Cera. O personagem é baseado em Tobey Maguire, ator que deu vida a Peter Parker.

O Fim de um Império e Problemas Paternais

Ao mudar sua operação para Nova York, o império de Molly encontra o seu ápice. Com uma motivação extra para se vingar do Jogador X, a personagem investe pesado em seus jogos. Com uma infraestrutura de ponta e as melhores bebidas disponíveis, os jogos de Molly começam a atrair clientes poderosos.

Quanto maior o poder aquisitivo de seus clientes, maior os lucros da empresária. No entanto, Molly se vê forçada a pegar comissões da mesa para cobrir as apostas caso alguém não pagasse, aí que as coisas começam a ruir. Nos Estados Unidos, um organizador de jogos não pode aceitar ou pegar comissões da mesa, caracterizando-se como um crime federal.

Para piorar a situação, a fama dos jogos privados acabaram atraindo clientes indesejados, como mafiosos russos e italianos. Com a participação dos mafiosos, foi questão de tempo para o império encontrar o seu fim e Molly ser detida.

É nesse contexto que entra em cena Charlie Jaffey interpretado pelo excelente Idris Elba. Charlie, um advogado renomado, tem várias ressalvas em relação a Molly e seu caráter, mas por fim, decide atuar como o seu advogado de defesa.

Charlie Jaffey (Idris Elba) e Molly Bloom (Jessica Chastain)

No entanto, Charlie acaba se tornando a figura paternal que Molly nunca teve. Quem acompanha o trabalho de Aaron Sorkin sabe que os problemas paternais são um tema recorrente de suas obras. Jessica e Idris estão em sua melhor fase e por conta disso, as melhores cenas do filme são protagonizadas pelos dois juntos.

Santa?

Um elemento interessante do filme é que Molly acaba sendo retratada como uma espécie de santa, uma virgem. A figura definitiva de mulher, porém, inalcançável.

Isso acaba sendo irônico, afinal, parte do branding estipulado por Molly é sexualizar sua própria imagem para atrair jogadores. O glamour é uma parte fundamental dos jogos organizados pela empresária. As localizações e bebidas extravagantes refletem o ambiente imaginado pela Princesa do Poker.


Os jogos privados arquitetados por ela são como uma espécie de paraíso masculino, contando com charutos caros e modelos servindo drinques exóticos.

Conclusão

A Grande Jogada (Molly’s Game) é um filme impecável, que entretém, ensina e impressiona. Marcando a estreia de Aaron Sorkin no cargo de Diretor, a obra é um grande acerto e com certeza irá somar na carreira do cineasta. Apesar da genialidade de Aaron, a grande estrela da película é Jessica Chastain, uma das melhores atrizes de Hollywod em atividade e uma figura definitiva do feminismo nos cinemas. Com uma interpretação poderosa e repleta de significados, a Molly de Jessica será difícil de esquecer.

Pedro Cardoso

Editor do Capacitor, apaixonado por games, filmes e literatura sci-fi/fantástica.

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