Contos | Cartão Plástico – Benício Targas

Havia sido uma semana de cão de muito trabalho. Jorge estava tentando superar sua recente decepção amorosa. As pessoas costumam dizer que nos momentos mais difíceis, o melhor a se fazer está nos escapes, focar nas tarefas da empresa, ocupar a mente, não ficar remoendo as lembranças, seguir em frente. Nestas dificuldades palavras é como a lua de distância do planeta terra chamado ações.

Era sexta-feira, numa conversa casual na copa do café, Tom notou que seu colega estava cabisbaixo e questionou:

– Sofrendo por causa de Mulher ainda Jorginho! Ânimo pô!

– Não tá fácil! Eu gostava muito dela.

– Sei bem como é parceiro! Sei bem como é… – Tom respondeu reflexivo.

– Vai fazer algo depois do trampo? – Tom acrescentou.

– Nada! Só ir pra casa! – Jorge respondeu melancólico.

Em instantes, Tom planejara tudo em sua cabeça, decidiu que levaria Jorge numa casa de respeitáveis senhores, pelo menos era assim que seu velho gostava de chamar o puteiro.

A tarde passou rapidamente, no fim do expediente Jorge vestiu o seu casaco e estava pronto para partir, entretanto enquanto esperava o elevador, Tom o abordou abruptamente. Jorge estava relutante, mas Tom estava tão empolgado com a ideia que ele acabou cedendo.

Chegaram numa rua onde as luzes de neons dos letreiros dos estabelecimentos iluminavam mais os asfaltos do que os próprios postes de luz. O local chamava-se Charm Amazonas, dois seguranças altos e balofos ficavam na entrada, era uma grande porta dupla espelhada, rapidamente revistaram os dois, Jorge nunca ficava a vontade neste tipo de ambiente, estava se sentindo arrependido de ter ido, mas corações partidos tomam atitudes desesperadas.

– Tom! Vou embora!

– Não pô, fica mais um pouco! – Ele respondeu rodeado de mulheres.

A casa estava cheia, as luzes piscavam freneticamente, havia televisores de alta definição espalhadas por todas as paredes exibindo pornografias, olhares vazios de pessoas de todas as cores, ideias, sonhos, arrependimento e vontades de preencher o vazio.

Jorge estava quase desistindo de escolher alguém, enquanto isso ficava todo sem jeito encostado no balcão observando o garçom, colocando água em vez de vodca para uma das garotas de programa.

Nos minutos seguintes uma linda garota cruzou discretamente o salão vestindo um jaleco e com os cabelos assanhados, ninguém ali reparou a moça, ela vestia muita roupa, mas Jorge a notou e a fitou até ela entrar na porta dos fundos da casa. Um tempo depois, a garota estava de volta, desta vez usando uma mini blusa vermelha, minissaia jeans, salto alto, seus cabelos eram compridos, estavam arrumados, seu corpo era exuberante, Jorge perdera o fôlego só de observá-la do outro lado do balcão, sentiu-se conectado, respirou fundo, criou coragem e foi de encontro a ela.

O nome de trabalho dela era Betina.

– Bonito nome! – Jorge afirmou empolgado.

– Mentira! Ninguém gosta deste nome! – Ela respondeu desdenhando.

– É sério! Eu gostei de verdade!

Betina sorriu e era perfeito.

“O que ela estava fazendo num lugar como aquele.” – Jorge pensou consigo.

– Porque você escolheu esse nome?

– Minha mãe cuidava de uma criança linda com este nome e tem um significado pra mim.

Deus é juramento: Este era o significado do nome, algumas coisas na vida são curiosas.

– Você é bonitinho! O que tá fazendo num lugar desses?

– Sinceramente não sei, mas me disseram que vai me ajudar a melhorar!

Os dois conversaram um pouco, ela comentou sobre o quanto o seu ex-namorado a deixava para baixo, ela estava provando que era uma mulher bonita, que podia ser desejada por qualquer homem. Pobre Betina. Querida Betina. Dezenove anos. Fazia faculdade de direito, apesar de trabalhar numa grande advocacia, a alta renda de oito salários mínimos por semana que os programas lhe proporcionavam era uma oferta tentadora para uma garota cheia de sonhos recusar.

– Como que funciona aqui? – Jorge perguntou tímido.

Betina dançava freneticamente o atiçando ainda mais, então ela falou num tom sensual:

– É simples, mas vamos fechar negócio lindo?

– Vamos! Ele respondeu decidido apertando a mão dela.

Então ele a seguiu pelo salão até o caixa para acertar os valores.

– Débito?

– Sim. – Jorge respondeu.

Betina levou Jorge para um hotel na mesma quadra do Charm Amazonas, cruzaram pelos seguranças balofos, chegando ao quarto, ele a seguiu como um homem enfeitiçado seguiria uma bruxa, ela se despiu rapidamente, Jorge esqueceu por completo do que se tratava aquele momento, sentia-se conectado, ela o atraía mais que fisicamente, o coito durou vinte minutos, ela disse que ele era o primeiro daquela noite e esta era o sexo que ela mais gostava.

Jorge estava eufórico enquanto vestia as roupas.

– Ainda temos dez minutos, podemos ficar deitados de conchinha como dois namorados até o alarme tocar.

Aceitou o convite, enquanto estava deitado perguntou:

– Sua mãe sabe Betina?

– Claro que não bobo!

– Você pretende montar família um dia?

– Lógico, depois que colocar silicone, comprar uma casa e um carro.

Ambos estavam agarradinhos no colchão velho e Jorge falou carinhosamente:

– Gostei muito de você Betina!

– Gostou nada! Todos falam isso!

– Gostei muito mesmo! – ele insistiu.

– Todos falam isso também – ela respondeu bem humorada.

O alarme tocou pondo o fim naquela utopia de trinta minutos.

– Betina… Se cuida tá! – Jorge afirmou melancólico.

– Venha me ver mais vezes.

Jorge sorriu, ela continuou andando em direção à entrada do Charm, enquanto ele esperava seu colega Tom, de repente, o vazio retornou, colocou as mãos nos bolsos como se estivesse procurando algo, mas Jorge sabia que não havia nada para encontrar, pensava em Betina naquele instante, no fundo ele não queria aceitar que o que ele tinha de mais íntimo consigo era um cartão de plástico em sua carteira.

 

  • Se quiser o seu conto publicado aqui, basta enviá-lo para contato@ocapacitordefluxos.com com uma imagem para capa.

Pedro Cardoso

Editor do Capacitor, apaixonado por games, filmes e literatura sci-fi/fantástica.

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