Ele estava debaixo de uma árvore no meio da floresta.
Era uma noite de céu limpo onde uma grande lua clareava tudo ao redor.
Triste, desolado, com suas asas quebradas, era um Melro preto que tinha desistido da vida, desistido de tudo. Caíra tantas vezes da árvore que acabou por quebrar suas asas.
Solitário, perdeu as esperanças de alguem o encontrar. Seu belo canto alegre se transformou em um gemido de agonia e desesperança.
Ele só sabia olhar com tristeza para suas asas e cantar em tom triste:
“Que poderei eu fazer além de perecer?
Estou fraco, com frio e cansado
Me recolhi ao meu mundo, ninguem passará ao lado
Nunca fiz mal a ninguem, não tenho coração malvado
Porque o maior dom que a vida me deu, me foi tirado?”
Ele passou tanto tempo ali que esqueceu-se das horas, esqueceu-se de como era voar, esqueceu-se do que era esperança.
Seus olhos fundos e negros perdiam o brilho a cada minuto.
Uma lágrima rolou.
Ele adormeceu.
A noite caía intensa, e um pouco de neblina se formava com o frio da madrugada. O Melro já não sentia mais nada, o corpo ja tinha se esfriado demais.
Então ele morreu.
No mundo nada mudou… A noite continuava a mesma coisa, a vida de outros animais da Terra também. Ninguém na Terra sentiu falta do Melro, ninguém chorou a sua morte, ninguém enterrou seu corpo, ninguém sequer soube ou se prontificou a querer saber o que tinha acontecido com ele.
De repente, uma estrela brilhou mais forte que as outras e iluminou o Melro. Ele abriu os olhos, confuso. Suas asas se consertaram sozinhas e ele sentiu um pouco de dor com isso. Ele pôde sentir que elas estavam melhores do que antes.
A morte que rondava a escuridão daquela noite não mais o atormentava, o medo foi se desvinculando de suas belas penas pretas como óleo da água. Ele cantou de alegria pela primeira vez em muito tempo. E foi maravilhoso. O silêncio da noite fez com que ecoasse por todos os cantos da floresta e todos os animais pudessem acordar e ouvir que ali renascia algo maior e melhor do que a simples existência deles. Todos se comoveram com aquela cantoria que parecia ser mais feliz do que o raiar de um novo dia.
O Melro finalmente usou seus olhos fundos para enxergar além das trevas.
Ele olhou para suas novas asas, tentou voar desajeitosamente, mas acabou caindo na relva. Ele riu de si mesmo, e tentou denovo. Bateu as asas o mais rápido que pôde e atravessou por entre folhas de árvores e neblina. Subiu aos céus acima da floresta e pôde ver sua antiga vida indo embora, algo lhe proporcionou algo novo em sua vida.
Aquele Melro fraco, cansado, medroso e triste não existia mais. Por um momento viu de cima o lugar em que tinha morrido e a impressão que teve foi que havia deixado ali algo que não era mais seu, um simples pássaro preto. Mas em um piscar de olhos aquele pensamento desvaneceu na noite, também foi deixado para trás.
A vida inteira o Melro esperou o momento de poder decolar.
O Melro pegou sua canção triste, colocou-a dentro de seu coração e a fez melhor.
A vida inteira ele esperou por aquele momento, pelo momento em que poderia ser livre.
Ohhhhh que alegria que é poder ver um texto meus publicado no @OCapacitordeFluxos ! Espero poder ver cada mais contos da galera ligado à cultura pop! Sejam muito bem vindos!