Capacitor Entrevista | Maria Luiza Maia, escritora do livro Todos os Nós

No primeiro domingo de setembro, dia 01, acontece em Salvador o lançamento do segundo livro da Maria Luiza Maia, Todos os Nós.

E para celebrar esse momento, conseguimos uma entrevista exclusiva com a autora.

Confiram abaixo:

O Capacitor – Bom, para começarmos que tal falar um pouco de você. Quem é Maria Luiza Maia?

M.L.M. – Nasci em 1995 em Feira de Santana, interior da Bahia, e há alguns anos moro em Salvador. Me mudei para a capital para fazer o curso de graduação que acabo de concluir. Sou escritora e poeta e, acho que acima de tudo, leitora. 

O Capacitor – Acho que a pergunta que todo mundo tem vontade de fazer a uma escritora é: como surgiu o hábito da escrita? Teve alguma influência?

M.L.M. – Surgiu na escola, na séries que hoje chamam de ensino fundamental I. Lembro que ser incentivada a escrever nas aulas desde a primeira série, com uns 7 anos. Nesta escola, ganhei meu primeiro concurso de poemas, aos 9 ou 10 anos. Aulas de português e, mais tarde, redação e literatura sempre foram as que eu mais gostava, mas na época ainda não tinha o hábito da escrita criativa – eu escrevia o que me era pedido (redações, resenhas, crônicas e demais trabalhos e sempre me senti muito bem fazendo isto, a ponto de, durante grande parte da minha vida, ter o jornalismo como carreira a seguir. A escrita criativa, de contos e poemas autorais, veio um pouco mais tarde.

O Capacitor –  Como é conciliar o processo de escrita à outras áreas de sua vida, como o trabalho, a vida pessoal, o tempo com os amigos?

M.L.M. – Ainda não sei muito bem como conciliar os dois trabalhos (a escrita pra mim É um trabalho, e não um hobby somente), sinceramente. Estou aprendendo ainda, já que a profissão que escolhi me exige alguns cuidados, alguns em relação às redes sociais por exemplo, que é algo que está bastante relacionado à promoção do meu trabalho como escritora. Mas acabei de me graduar, ainda tenho tempo para aprender a lidar com isto de forma com que me sinta confortável. Em relação à vida pessoal e tempo com os amigos, é tranquilo: eu vivo e respiro literatura a maior parte do tempo, então minha vida pessoal está bastante relacionada com a escrita e leitura; e tenho a sorte de ter muitos amigos escritores, com os quais me reúno com frequência – nem sabe para falar de literatura, claro. Sobre amigos que são de outras áreas, tenho a sorte de tê-los sempre por perto enquanto promovo meu trabalho como escritora.

O Capacitor – Como foi a recepção de sua família quando você revelou que estava escrevendo um livro?

M.L.M. – Só avisei a minha família sobre a publicação do primeiro livro quando ele já estava pronto para ser impresso na gráfica, então acredito que tenham ficado surpresos, apesar de achar que em algum momento ao longo da minha vida eles já devem ter me ouvido dizer que gostaria de publicar livros, nem que fossem acadêmicos. Tenho o privilégio de vir de uma família de leitores, então imagino que também tenham ficado orgulhosos.

O Capacitor – Quais são as principais dificuldades que você encontra enquanto escritora?

M.L.M. – Minha principal dificuldade no momento é a busca de uma forma de exercer minhas duas profissões sem que uma prejudique a outra de alguma forma, mas, como disse anteriormente, acho que com o passar tempo ficarei mais confortável em relação a isto. Outra grande dificuldade é minha relação com as redes sociais, que de uma forma ou outra hoje são imprescindíveis para a divulgação do trabalho. Nunca fui uma pessoa que gosta de me expor muito na internet, hoje estou aprendendo a fazer isto de uma forma que alcance pessoas mas ao mesmo tempo me deixe satisfeita e sem me sentir superexposta. E, por fim, as questões financeiras: publicar é caro, desenvolver material pra divulgação de qualidade pode ser caro… Eu costumo dizer que artista independente é meio empreendedor também, pelo menos no início, e pra empreender, precisamos de um mínimo de dinheiro pra começar. 

O Capacitor – Infelizmente, no Brasil, ainda existe muita resistência acerca da leitura, em especial, em relação ao acesso aos livros pelos mais jovens. Como você enxerga isso? Tem interferência em seu trabalho?

M.L.M. – Enxergo como um fruto de nossa história como sociedade ao longo dos últimos anos e de como a educação não parece ser prioridade – e infelizmente parece que estamos caminhando para um maior declínio nesse sentido. É uma questão que interfere em meu trabalho sim, absolutamente, pois acredito na formação de leitores desde cedo. Tenho muito prazer em conversar com adolescentes ou jovens como eu que possuem algum interesse, ainda que mínimo, em leitura e escrita. Tenho certa proximidade com algumas escolas também, que me fazem ter contato com eles. Acho muito importante e prazerora essa troca.

O Capacitor – Você já tem alguns bons trabalhos no meio literário – entre eles a organização da Antologia Corpo que Queima de Poetas Baianas. Como foi desenvolver esse trabalho? Qual a importância de criar um espaço para que diversas mulheres pudessem ser escutadas, ter sua arte divulgada?

M.L.M. – É um trabalho que tenho muito orgulho de ter feito. Tive a ideia da antologia quando comecei a circular nos eventos literários de Salvador depois do lançamento do meu primeiro livro. Depois do lançamento também começaram a surgir muitas, muitas mulheres, mulheres que eu descobria por acaso ou que me abordavam de alguma forma, que escrevem há bastante tempo, mas nunca tinham publicado, seja por medo, vergonha, condições financeiras, etc. Cheguei a criar um instagram, o @oquelidasmulheres, que não existe mais, para compartilhar essas descobertas e começar a formação de uma rede de escritoras baianas que estavam começando a entrar nesse universo da publicação, como eu estava, ou ainda não tinham começado a entrar. Cheguei a comentar sobre a vontade de fazer uma antologia com essas mulheres com um amigo, Matheus Peleteiro, também escritor e baiano, mas não levei o projeto pra frente por questões financeiras. Meses depois, Matheus me fala da editora online Appaloosa Books, que publicava e-books gratuitamente, e me colocou em contato com o ex-editor, Felippe. Conversamos sobre o projeto e ambos topamos fazer. Abri uma espécie de inscrições de textos e divulguei o máximo que pude nas redes para mulheres da Bahia inteira, já que não fazia o menor sentido eu juntar apenas minhas amigas e conhecidas numa antologia que buscava pluralidade e mulheres de todos os cantos do estado. A seleção foi bem difícil, me perguntava que importância eu tinha para selecionar poemas de outras pessoas, rolaram algumas crises existências. Mas deu tudo certo. E sou muito feliz por ter conhecido cada uma daquelas 41 mulheres, por elas terem confiado seus textos a mim (uma boa parte delas nunca tinha mostrado nenhum escrito a ninguém). Somos um grupo que se comunica até hoje, algumas se tornaram grandes amigas. 

O Capacitor – Ainda falando de seus trabalhos anteriores, você já tem um livro publicado – o Algumas Histórias Sobre a Falta. Fale um pouco dele para a gente. Do que se trata? Qual foi sua inspiração para escrevê-lo? Onde pode ser encontrado?

M.L.M. – É um livro que pequenas histórias, escritas em prosa e verso, que podem ser lidas aleatoriamente ou de uma vez só, apresentando uma sutil ligação entre elas. A inspiração veio do conceito de “falta” para a psicanálise e todos os textos falam de faltas diversas e, sobretudo, da nossa incompletude como sujeito. 

O livro no momento encontra-se esgotado, felizmente e infelizmente. Programei com a editora uma nova tiragem, pequena, para os próximos meses. Estamos trabalhando nisto.

O Capacitor – Falando um pouco sobre o seu próximo livro, Todos os Nós. Você poderia nos falar um pouco dele? Quando será lançado? Do que se trata? Qual foi sua inspiração para escrevê-lo? (diz também onde ele pode ser comprado)

M.L.M. – A ideia de Todos os Nós surgiu no fim do ano passado, acredito eu, enquanto eu fazia algumas aulas de artesanato. Eu gostava de ver como as mãos, as minhas, as das colegas e da professora, se mexiam para formar alguma produto. Achava muito bonito. Curiosamente, foi a mesma época em que li Entre as Mãos, da autora Juliana Leite, um livro que fala sobre uma artesã, e pouco depois conheci uma autora baiana chamada Deisiane Barbosa, que publicou seus livros de forma independente e artesanal, costurando exemplar por exemplar. Nas conversas com Deise, enquanto ela falava sobre esse processo de produção dos livros, conseguia e até hoje consigo imaginar suas mãos se mexendo para costurar os livros. Esses três pontos me marcaram muito, a ponto de querer explorar o tema da costura em meus escritos. Fui juntando, mudando, organizando, e aí surgiu Todos os Nós. O livro já pode ser encontrado no site da Editora Penalux, e partir do dia 01 de setembro (data do lançamento) poderá ser encontrado em terras baianas.

O Capacitor – Conte para gente como foi o processo do Todos os Nós. Sabemos que para além da escrita o livro passa por editoração, diagramação.

M.L.M. – Foi tudo muito simples. Eu tinha em mente que no segundo livro eu precisaria optar por uma editora que trabalhasse de forma parecida com a minha – rápida e organizada, pelo menos minimamente, Encontrei isto na Penalux, depois de muitas conversas com autores publicados pela editora e também por outras editoras que gosto e acompanho. Mandei o original para algumas. Quando recebi a resposta positiva de algumas delas, a partir das conversas com esses outros autores, já sabia que escolheria a Penalux. Foi tudo bastante rápido, não precisei me preocupar com muita coisa, tive sorte.

O Capacitor – Entrando um pouco no campo da publicação, um dos principais debates da atualidade é acerca da expansão dos ebooks. Como você vê essa nova tendência da atualidade? As tecnologias têm sido facilitadoras no processo de criação da escrita?

M.L.M. – Não sou grande consumidora de e-books, mas reconheço sua importância, pela praticidade, preço, acessibilidade – todos esses aspectos facilitam a formação e desenvolvimento de leitores, então pra mim é bastante positivo. Não acredito que os e-books ameacem um fim dos livros físicos – talvez uma queda das vendas pode ter acontecido e continuar acontecendo, mas faz parte da evolução tecnológica das sociedades. Meu único porém quanto a relação da tecnologia com a escrita é a supervalorização das redes sociais para “se tornar um bom escritor”. Já ouvi isso algumas vezes e fiquei assustada. É perigoso vender esse tipo de discurso. O que torna alguém um bom escritor é leitura e prática. O sucesso nas redes sociais deve ser consequência da qualidade do seu trabalho, e não uma condição para a existência dele.

O Capacitor – Por fim, gostaríamos de saber o que você poderia dizer para a galera que está começando agora e tem o sonho de publicar seu próprio livro.  

M.L.M. – Primeiramente, leiam muito! Só escreve quem lê. E continuem lendo, lendo, lendo… Sobre publicações, é muito importante que seja feita uma pesquisa a respeito do que você quer, do que você procura como escritor publicado. Procurar bons profissionais, pedir indicações a outros autores é fundamental. Ter cuidado com seu próprio original, que é valioso. Inclusive, me coloco a disposição para conversar sobre essas questões a quem tiver interesse. Só me procurar em alguma das minhas redes sociais.

O Capacitor – Agradecemos pela atenção e pela disponibilidade. Deixamos aqui esse espaço em aberto caso você queira acrescentar algo mais.

M.L.M. – Gostaria de convidar a todos para o lançamento do meu segundo livro, Todos os Nós, que falamos aqui, que acontecerá no dia 01 de setembro de 2019, às 16h, no Seven Wonders Café Ondina. Estamos trabalhando para fazer um evento bacana. Espero vocês que leram tudo até aqui!

Pedro Cardoso

Editor do Capacitor, apaixonado por games, filmes e literatura sci-fi/fantástica.