Capacitor Entrevista | Lucas de Lucca, escritor do livro O Corvo Negro e editor
Na última semana tivemos a oportunidade de entrevistar o escritor Lucas de Lucca, autor do livro O Corvo Negro – o primeiro volume da Trilogia das Plumas.
Confiram a entrevista abaixo:
O Capacitor – Acho que a primeira pergunta que todo mundo tem vontade de fazer a um escritor é como surgiu o hábito da escrita? Teve alguma influência?
L.L – Sempre digo que quando percebi que amava escrever já era tarde demais para querer fazer outra coisa. Tudo começou em uma praia gaúcha. Quem mora por aqui sabe que são todas terríveis, cada uma com seus problemas. Por não gostar de praia na época preferi ficar em casa, por não ter TV nem internet resolvi escrever. Felizmente não parei mais.
O Capacitor – Como foi a recepção de sua família quando você revelou que estava escrevendo um livro?
L.L – Minha mãe foi quem me criou a maior parte da minha vida, mesmo que meu pai tente estar presente, mas moramos bem longe. Minha mãe sempre me apoiou demais em tudo que quis fazer, menos quando disse que seria jornalista. Ela estava certa sobre isso. Quando contei do livro ela ficou emocionada em ter um filho escritor, nem pensou na possibilidade de falência completa, dependência financeira ou a chance de eu morar com ela até os vinte e muitos. Por sorte fiz boas escolhas e abusei um pouco da sorte, então sai de casa aos 19 e tento sempre trazer orgulho pra ele e meu pai, que sempre me apoiaram. De formas diferentes, mas que tem grande valor para mim.
O Capacitor – Quais são as principais dificuldades que você encontra enquanto escritor?
L.L – Em questão existencial, o mau humor me trava muito na escrita. Quando não estou com um bom clima não produzo nada de bom e tenho que refazer tudo que fiz naquele período. Mas de dificuldade mesmo é o temor de não ter um salário garantido no final do mês. O assalariado é como os humanos dentro da matrix, tem uma segurança simulada, simulada porque a demissão sempre espreita, mas tem uma segurança de que todo mês vão receber aquela quantia. Daí eles planejam o valor que podem gastar em contas e isso define nosso status econômico e muitas vezes social. Mas, o que fazer quando não há um fluxo contínuo? Tenho meses onde ganho muito mais do que esperava de um lado, mas outro falha miseravelmente. Um bom exemplo é outubro. Muitas feiras acontecendo gera uma chance ao escritor de participar de oficinas, bate-papos, palestras e vender suas obras, além de ganhar, raramente, um cachê. Esse dinheiro não previsto ajuda demais e pode servir para complementar a falta de renda de outros meses, caso haja controle na pessoa. No entanto, nesse mês de outubro minhas vendas de livro caíram drasticamente. Não sei se foi pela eleição ou outros motivos, mas minhas vendas caíram uns 80%. De um lado é muito bom, do outro muito ruim. Acaba equilibrando, mas muitas vezes não equilibra e preciso ter uma reserva pronta.
O Capacitor – Infelizmente, no Brasil, ainda existe muita resistência acerca da leitura, em especial por parte dos mais jovens. Como você enxerga isso? Tem interferência no seu trabalho?
L.L – Tudo é questão de educação e ensino. Se nas famílias for ensinado à criança que ler é uma forma de lazer tão boa quanto qualquer outra, o que é mais do que verdade, aquela criança vai continuar lendo e consumindo sem nunca parar. Se a família não incentivar entram os professores com projetos que envolvam a literatura e que proporcionem às crianças e adolescentes chances de conhecer bons livros. A maioria dos professores com quem conversei sobre o assunto também não acham certo passar livros clássico e duros para os mais novos, por isso fazem propostas diferenciadas com fantasia, alguns romances e até com autores regionais. Em 2017 fiz um projeto onde visitei quase todas as escolas da minha cidade, fiz quase 80 palestras só nas instituições de Bento Gonçalves. Percebi duas coisas: primeiro, todos os grupos de alunos, desde os mais resistentes até os predispostos, queriam me ouvir e participar. E segundo, os professores é que definiam se eles iam poder continuar participando daquela experiência ou não. Exemplo: quando fazia minhas palestras, ao final dela, avisava todos que se quisessem meus livros eu os venderia por um preço simbólico aos alunos. Como a maioria não leva dinheiro pra escola, muito porque os professores não avisam que alguém virá e que tem essa chance, eles se comprometem a montar um grupinho, pegar o dinheiro, os nomes e me enviar. Sempre coloco um professor pra coordenar isso e passo meu contato pra esse professor. Das quase 80 palestras que fiz, em todas elas alunos vieram ao final com essa proposta. Das 80 apenas umas seis concluíram essa aquisição, justamente as que tinham os professores mais interessados e participativos. Assim que impacta na minha vida, porque muitos possíveis novos leitores, previamente interessados, perdem mais uma chance de entrar no universo da literatura, primeiro por culpa dos pais que não incentivam e depois por professores, muitas vezes desgostosos pelas situações de trabalho.
O Capacitor – Quais são seus livros já publicados? Você poderia fazer um breve comentário sobre eles?
L.L – O primeiro que publiquei foi Trilogia das Plumas: O Corvo Negro, que tem um projeto gráfico lindo. Amo livros de capa dura, mas o trabalho feito no O Corvo Negro ficou incrível. A história é a que mais gosto, e que o público costuma curtir mais. Infelizmente a revisão deu uma falhada na primeira edição, mas concertamos tudo para a segunda que sai ano que vem. O segundo foi o Crônicas dos Três Deuses: Nova Rajux. Escrevi esse livro para entrar nas escolas mais fácil. É uma fantasia voltada ao público adolescente, mais leve que O Corvo Negro, mas também pura fantasia. Tem o ritmo e clima de uma aventura de RPG, o que eu adoro e foi totalmente sem querer. O último livro que tenho publicado é o A Primeira Profecia, uma fantasia mítica que fiz em coautoria com o ilustrador Anderson Lopes. O mais bacana de A Primeira Profecia, na minha opinião, é o personagem principal, Lúcifer, que inspirei totalmente, ou quase, no personagem da série de TV.
O Capacitor – Quais são seus livros em produção? Pode adiantar alguma coisa pra gente?
L.L – Tenho muita coisa em produção, mas meu foco agora é todo na Trilogia das Plumas. Se tudo der certo, ano que vem meu nome vai estar em seis novas publicações. Já posso adiantar algumas. Primeiro tem a nova edição de O Corvo Negro, que se chamará A Vingança do Órfão, mudando o nome e cortando uma parte final da história, que vai aparecer no livro dois. Essa decisão é baseada em todo o feedback que recebi dos leitores nesses mais de dois anos, o que gerou um livro mais do que fantásticos.
E tenho muitas antologias confirmadas:
– Fantástico Chaos: fui convidado a escrever um conto para a antologia de fantasia da Chaos Books. O edital ainda está aberto e pode ser acessado pelo Instagram deles, que é @editorachaosbooks.
– Quando você se Foi: essa é uma antologia muito especial, na qual também fui convidado a participar pelas organizadoras Letícia P.S. e Diany Cardoso. É uma antologia sobre perdas que vai ser editada pela Editora Flyve. A inscrição também ainda está aberta e podem ser enviados contos de qualquer gênero. Para encontrar mais informações é só acessar o site da editoraflyve.com/antologias.
– Casa Fantástica: essa antologia é um projeto que estou organizando junto do Duda Falcão, um autor que admiro demais. Essa antologia não tem período de seleção, vai ter apenas autores convidados e não posso falar muito dela ainda, mas vai ser fantástico.
Tem outras duas antologias que estou metido, mas como não é nada oficial nem publicado, melhor deixar baixo.
O Capacitor – Entrando um pouco no campo da publicação um dos principais debates da atualidade é acerca da expansão dos ebook. Como você vê essa nova tendência da atualidade? As tecnologias têm sido facilitadoras no processo de criação da escrita?
L.L – Eu estou morrendo de vontade de ver os e-books entrando de verdade no mercado. O consumo de e-book é muito fraco ainda, cerca de 3% a última vez que vi. Essa porcentagem é pequena demais e é real. Um livro impresso vende muito mais, mesmo sendo bem mais caro, do que um e-book. Mas se os e-books realmente pegarem vai ser a chance de pararmos de gastar pequenas fortunas com a publicação de um livro e poder focar em produzir conteúdo bom, barato tanto pro leitor quanto pra nós, e ainda alcançar uma distribuição de boa qualidade, algo que com o impresso é quase impossível.
O Capacitor – Além de escritor, você também é editor. Poderia nos contar um pouco como é o processo de edição/produção de um livro?
L.L – É uma delícia. Poder aconselhar outros autores sobre coisas que já passei e trabalhar junto de uma equipe incrível pra dar vida ao sonho dele ou dela é indescritível. O processo de produção de um livro pode levar desde uns três meses até quase um ano, tudo varia de acordo com a situação financeira do autor aliado à suas necessidades na obra. O complexo é escolher os profissionais certos, capista e diagramador que combinem entre si e ainda com o autor, e depois controlar tudo isso, fazer dar certo. Mas é muito bom, é uma das melhores partes dos meus dias.
O Capacitor – Quais são as principais dificuldades que você encontra enquanto editor?
L.L – O desconhecimento dos escritores iniciantes sobre o mercado. Fico honrado sempre que me perguntam e pedem que eu explique tudo que posso, mas o que é muito comum é gente enviando original, pedindo para ler, recebendo orçamentos meus e de outros editores e reclamando que publicar livro é caro. Teve um guri que já me pediu se com 100 reais ele conseguia editar um livro. O mercado é caro, se faz necessário um alto investimento para ter um retorno interessante, se trabalhar direito. A maioria quer mesmo enviar o seu original para todas as editoras, com esperança de que leiam a genialidade que escreveram e publiquem sem cobrar nada, mesmo que seja num formato como a Flyve, que tem uma proposta bem única. Nunca peguei um original na minha mão que fosse genial. Tem gente boa, histórias interessantes, todos precisam de ajustes, mas tudo sempre precisa, mas nunca nada genial, algo que eu PRECISAVA publicar.
O Capacitor – Para encerrar gostaríamos de agradecer pela atenção e pela disponibilidade. E deixamos aqui esse espaço aberto, caso você queira falar algo mais.
L.L – Eu que agradeço muito pelo convite, foi uma honra responder as perguntas e fico sempre à disposição. Quero convidar todos a me seguirem no Instagram @lucas2vezes para trocarmos uma ideia, e também a conhecerem minha loja oficial, que tem link lá no Insta. Posto várias promoções por lá, inclusive agora tem umas três ativas.