88Mph | Sexta-feira 13 – Jason vai para o inferno / Freddy vs Jason

Durante os anos 80 os filmes de terror (ou trash, como ficaram conhecidos) atingiram seu auge de popularidade. Um dos maiores responsáveis por isso e que mais beberam dessa fonte, fora os filmes da franquia Sexta-feira 13.

Mesmo que você seja jovem demais para ter acompanhado a febre que esses filmes foram, certamente você conhece o mito que envolve essa data. Da mesma forma, seguramente já viram Jason em algum lugar, seja em alguma referência em filmes mais atuais, seja em uma festinha de Halloween no curso de inglês, ou até mesmo na torcida do seu time de futebol.

Há 25 anos atrás, Jason protagonizaria o nono filme da franquia Sexta-Feira 13. O tempo verbal escolhido se deve ao fato de que, na verdade, Jason não está no filme fisicamente pela primeira vez desde o segundo filme da franquia, quando se tornou o grande assassino protagonista.

No primeiro filme, lançado em 1980, descobre-se ao final que na verdade o misterioso assassino era Pamela Voorhees, mãe de uma criança chamada Jason que havia sido assassinado anos antes. A transtornada mãe buscava vingança pela morte de seu filho e, quando é decapitada no mesmo lago em que ele havia sido afogado, ele se mostra ainda vivo e passa a perseguir todos os jovens irresponsáveis que buscam diversão às beiras de Crystal Lake nos filmes seguintes.

Contudo, Jason, que passara a ser uma espécie de zumbi imortal ao longo dos 7 filmes que protagonizou entre 1982 e 1989, aparentemente é morto logo no início deste nono filme, ao ser explodido em centenas de pedaços em uma emboscada do FBI.

Os restos mortais do assassino são levados ao necrotério, mas o espírito maligno de Jason possui o médico legista que o examinava. Daí por diante, não se trata mais do mesmo Jason que assombrou todo e qualquer jovem que resolvesse fazer sexo e/ou se drogar em Crystal Lake, mas sim, um ser humano comum possuído pelo espírito maligno de vingança que o habitava.

Por essa razão, as críticas ao filme foram duras. O filme mantém um índice de aprovação de 24% no Rotten Tomatoes, e no Metacritic, o filme tem uma classificação 17/100 com base em 11 críticas, indicando “aversão esmagadora”. As críticas incluem a ideia de que Jason “possuindo” o corpo de pessoas para matar suas vítimas é algo muito estranho e que o filme não passa de outra sequência estereotipada da série, com atuações pobres e furos de roteiro.

Além disso, o filme sofreu uma quantidade muito grande de cortes em sua edição, de modo que quase metade do material original filmado por Adam Marcus (diretor do filme) não foi aproveitado, dado a grande quantidade de erros cometidos por ele em seu primeiro trabalho como diretor. Alguns diálogos eram bem mais longos e várias cenas foram consideradas inviáveis, como uma sequência de oito minutos ininterruptos em câmera lenta (!!) durante o massacre no restaurante. Nesse processo, muitas tramas foram completamente ignoradas,  enquanto outras foram adicionadas e cenas importantes foram compactadas, como quando o caçador de recompensas Creighton Duke explica “as regras” para conseguir matar Jason.

Ainda assim, o produtor do longa Sean S. Cunningham, mesmo produtor (e também diretor) do primeiro filme que estava de volta à franquia, não se mostrou satisfeito com o resultado final: “Adam veio até mim e disse: ‘A última coisa que os fãs querem é ver novamente Jason vagando pelo acampamento Crystal Lake e retalhando adolescentes.’ Claro, isso era a única coisa que eles queriam ver, e Adam fez esse filme que não ficou tão bom assim.”

Em novembro de 2017, Marcus comentou que um ponto esquecido do filme é que a trama Jason Voorhees está conectado à franquia Evil Dead. O cineasta comentou: “Pamela Voorhees fez um pacto com o diabo ao ler o Necronomicon na intenção de trazer seu filho de volta à vida. É por isso que Jason não é Jason. Ele é a soma de Jason e The Evil Dead, e agora eu posso acreditar que ele pode passar de um garotinho que vive num lago a um homem adulto em dois meses, ao Zumbi Jason, nunca sendo possível matar esse cara. Isso, para mim, é mais interessante como um mashup, e Sam Raimi (diretor, produtor e roteirista de Evil Dead) adorou isso! Não é como se eu pudesse sugerir à New Line meu plano de incluir The Evil Dead, pois o filme não é deles. Então isso deveria ser um easter egg, e eu me concentrei nisso… há uma cena inteira que inclui o livro, e eu esperava que as pessoas entendessem e captassem o que eu realmente estava fazendo. Então sim, na minha opinião, Jason Voorhess é um Deadite. Ele é um dos The Evil Dead.

O que acontece é que o produtor Sean S. Cunningham originalmente concebeu um filme de terror e ação no qual Jason Voorhees lutaria contra Freddy Krueger da franquia A Hora do Pesadelo. Porém, a Paramount Pictures, que lançou as oito sequências anteriores da série Sexta-Feira 13, negociou com a New Line Cinema os direitos da série e concedeu à New Line os direitos do personagem Jason Voorhees, mas manteve o controle do título Friday the 13th (por essa razão o título original deste filme é Jason Goes to Hell: The Final Friday). A New Line, que também detém os direitos de Freddy, deixou a ideia de Cunningham em espera, levando-o a escrever um roteiro diferente, que funcionasse como prenúncio para o enredo em que Jason encontra Freddy. A ideia original de Cunningham só seria executada uma década depois, com Freddy vs. Jason, de 2003.

E isso nos leva à segunda etapa deste texto, onde relembramos brevemente esse filme que completa 15 anos de lançamento em 2018.

Ao final do nono filme da franquia Sexta-Feira 13, Jessica (filha de Diana Kimble, meia-irmã de Jason) é a única parente viva do assassino. Somente ela poderia acabar com a maldição ao matá-lo com uma adaga no peito. Ao fazê-lo, ela liberta todas as almas que ele havia possuído até então e mãos demoníacas surgem do chão e puxam Jason para as profundezas do Inferno. Mais tarde, um cachorro encontra a máscara de Jason enquanto cavava a terra. A mão com garras de Freddy Krueger sai do chão e puxa a máscara de Jason para baixo.

É a deixa para o crossover mais esperado pelos fãs de filmes trash dos anos 80 e início dos 90. Entretanto, esse sonho, com licença para o trocadilho, só pode ser vivenciado em 2003, 23 anos após o lançamento do primeiro filme de Jason e 19 anos após a primeira aparição de Freddy.

O orçamento do filme foi de US$ 30 milhões de dólares e a bilheteria ficou em US$ 114 milhões de dólares mundialmente, mas o filme acabou tendo críticas negativas.

Na história, Freddy Krueger está de volta tentando assombrar os sonhos das crianças Rua Elm, mas está enfraquecido, pois as pessoas se esqueceram dele, já que ele se alimenta do medo das crianças. Ele percebe então que precisa de um instrumento, um monstro que possa usar para instigar o medo. Freddy ressuscita Jason enganando-o através de sonhos para que saia de Crystal Lake e vá até Elm Street. A matança que promove é atribuída a Freddy, pois ele é o monstro local. Com seus poderes renovados, ele volta a matar, mas fica totalmente furioso quando Jason passa a matar quase todas as suas vitimas, o que faz com que Freddy enfrente-o no tão esperado duelo cheio de sangue e terror.

Por mais que a execução não tenha sido tão espetacular quanto se esperava, o filme foi bem divertido para todos que gostavam (ou gostavam) do estilo. Um dos maiores problemas citados pela crítica especializada da época, foi o fato de Jason ter sido muito mal interpretado por Ken Kirzinger, que não amedrontava ninguém e tinha pouca presença.

Ainda que muitos desses fãs sequer tenham notado isso, há bons recursos cinematográficos inseridos no filme, como tons alaranjados quando Freddy está no seu ‘plano alto’ e tem vantagem sobre Jason, ou quando o contrário acontece e a luta passa para o mundo real onde Jason tem a vantagem. O que a maioria queria era sangue jorrando, membros mutilados, adolescentes vividos por jovens de 20 e poucos anos falando ‘bitch’ gratuitamente e meninas com roupas desnecessariamente curtas sendo perseguidas e mortas. E tudo isso está lá. Fazendo da épica batalha entre os dois vilões apenas a cereja do bolo dos oitentistas nostálgicos.

Vale lembrar que Jason X, de 2001, se passa no futuro, justamente para não interferir na cronologia deste filme que já estava em produção.

E se você não vê nada de mais em um crossover como esses, visto que hoje em dia esse tipo de coisa está muito comum no cinema (especialmente por conta do que a Marvel fez com seu MCU e o legado que ela deixará), saiba que há 15, 25 anos atrás, isso era o auge do delírio dos fãs de cinema e cultura pop em geral.

Nesta sexta-feira 13, fica a dica para você que curte filmes trash ou que tem interesse em conhecer elementos importantes na cultura pop, ou até mesmo quem viveu essa época e está nostálgico: faça uma pequena maratona com Jason vai para o inferno e Freddy vs Jason na sequência.

Pedro Cardoso

Editor do Capacitor, apaixonado por games, filmes e literatura sci-fi/fantástica.

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