88Mph | 30 anos de Street Fighter II

Em Fevereiro de 1991 chegava aos melhores fliperamas do mundo um jogo de luta que viria para entrar para a história e marcar a vida de gerações de gamers. Street Fighter II está completando 30 anos e continua em alta no coração dos gamers que viveram sua época de ouro.

O game que teve diversas continuações (oficiais ou não) e chegou até mesmo às telonas, é considerado o ‘pai’ dos jogos de luta e teve (e ainda tem) sua dinâmica e estética copiada e replicada ad infinitum.

Street Fighter II foi pioneiro em em muitos aspectos e talvez isso explique o fenômeno que se tornou. Por exemplo, até então, o conceito de ‘combo’ não existia em games desse gênero. Emendar um golpe no outro, sem chance de defesa para o adversário e causando um dano ainda maior, foi algo ‘desoberto’ em SFII. E o mais curioso, é que isso só foi possível por um tipo de erro de programação. Acontece que tal técnica se tornou popular e acabou virando oficial e foi levada a outros jogos e continua, até hoje, sendo aperfeiçoada.

Outra coisa que ficou popular através desse jogo, e aqui deixamos a observação de não saber precisar se ele foi o primeiro a fazer isso ou não, é a questão de ambos os jogadores poderem usar o mesmo personagem com uma paleta de cores diferente para saber Ken é Ken (HÁ!!). Inclusive, Ken é disparado um dos personagens favoritos de todos os tempos nesse game. Quase toda brincadeira de bonecos ou de ‘lutinha’ das crianças nos anos 90 tinha que ter um Hadouken ou Shoryuken.

A propósito, esse é um outro legado cultural ‘gostoso’ de SFII: por ser um dos primeiros jogos onde os personagens ‘falavam’ seus golpes, amávamos ficar os repetindo de forma bem equivocada, conforme conseguíamos entender. Por exemplo, dos golpes já citados, Adúgue e Róriugue eram as formas mais comuns que se ouvia pel RJ. Inclusive, por muito tempo quando alguém tomava um fora, uma resposta seca e desconcertante, gerava automaticamente um sonoro “ÁDUUUUGUE!” ou “RÓÓÓRIUGUE!” da galera, com suas mãos na cabeça e olhos arregalados.

Da mesma forma, também havia os clássicos Mini Táxi (Spinning bird kick, da Chun Li), Macumba Vai / Macumba Vem (Yoga Fire e Yoga Flame, respectivamente, do Dhalsim, que inclusive era chamado apenas de Macumba), Alex Full (Sonic Boom do Guile, que sempre será chamado de GUÍLE mesmo, e não GÁIOL) e o mais famoso de todos, o Taiguer Robocop (Tiger Uppercut, do Sagat). Esse virou até nome de uma festa temática dos anos 90 por aqui.

Curiosidade do redator: a maioria desses golpes era pronunciada de forma parecida por todo o Brasil, como poucas mas próximas variações. Porém, um deles era bem diferente dependendo da região, por vezes mudando de um bairro pra outro. Então, fala aqui pra gente como você chamava o ‘helicóptero’ dos personagens Ken e Ryu, que se chama originalmente Tatsumaki Senpuu Kiaku. Onde eu morava, era Téc Téc Thurugue. Mas na maioria dos relatos consta como Ataque das Corujas.

Já que estamos falando de coisas do povão e de regionalidades, como eram conhecidas na sua região as versões pirateadas do jogo, aquelas que hoje diríamos que tem ‘hack’, que tiveram o código quebrado e editado? Aqui no subúrbio do RJ eram quase sempre chamadas de Street Fighter Alterada (ou Super Alterada). Mas já soube que em muitos lugares era mais popular como Street Fighter de Rodoviária, já que se encontrava em maior número nesses locais.

Existiam várias dessas versões, obviamente não-oficiais. Mas em praticamente todas, um ponto comum era a possibilidade de trocar de personagem durante o jogo (apertando o botão ‘start’), uma alteração absurda na velocidade do jogo, deixando muito mais rápido e poder ficar mandando ‘magia’ com muito mais frequência, a ponto de ser possível encher a tela de ‘alex full’ ou ‘hadukens’.

Em algumas versões, personagens que não tinham ‘magia’, passavam a ter. Por exemplo, quando o Blanka dava um ‘choquinho’, saíam ‘alex full’ dele, ou nos chutes rápidos da Chun Li, saíam ‘hadukens’. Era até possível dar um ‘pilão’ do Zangief posicionando sua sombra sobre o adversário. O que mais tinha nessas versões era a chamada ‘apelação’, no grosso, roubo. Um ‘Tiger Robocop’ que tirava mais de meia barra de energia, ou um Shoryuken que cruzava a tela ‘passando por dentro’ das ‘magias’ ou ainda um ‘helicóptero’ que também passava por dentro de ‘magias’ e acertava uns 10 hits ou mais, sendo muito além do comum.

Outra coisa que cativou os brasileiros foi o fato de que pela primeria vez nos sentimos representados, ainda que com resslavas dado o visual ‘esculachado’ do ‘lobisomem’ Blanka, que lutava na Amazônia brasileira. Provavelmente Street Fighter II também foi pioneiro em trazer personagens de algumas nacionalidades diversificadas, como brasileiro, espanhol, tailandês e indiano.

SFII foi fenomenal também nos consoles. O Super Nintendo, que começava a reinar nessa época, fez uma adaptação bem fiel para seu console e até hoje é um dos mais vendidos de todos os tempos. Ele chegou até a ganhar uma versão pirata para NES (Nintendinho) e uma ‘semi’-pirata para Master System. Explica-se: ela começou a ser desenvolvida pela Tec Toy, distribuidora da Sega por aqui, de forma não autorizada. Mas quando a Capcom viu a versão, gostou tanto que autorizou e a adaptação acabou sendo uma das mais bonitas do console de 8 bits da Sega.

Graças ao sucesso do game pelo mundo, foi feita uma versão live action para cinema em 1994. O filme tinha um dos maiores astros dos filmes de ação na época, Jean-Claude Van Damme interpretando o personagem principal, Guile. O que por si só, já é uma controvérsia, já que originalmente o personagem principal do game é Ryu (que foi quase figurante no filme). Além disso, foi o último grande filme de Raul Julia, intepretando Bison. Ele também era bem grande na época e ficou muito famoso por ser o Gomez, da Família Addams. Ele morreu pouco antes do lançamento do filme.

Infelizmente o filme foi bem fraco e com uma produção de qualidade duvidosa , mas até que foi divertido pra época. Pelo menos também abriu as portas de Hollywood para Ming-Na Wei, que interpretou Chun Li e depois de anos veio a ser a Agente May na série Agents of Shield, e mais recentemente, Fenneec Shand em The Mandalorian. Além de ter dublado a Mulan na animação de 1998.

Um fato curioso, é que o fime foi baseado no game, e depois disso acabou ganhando uma versão em game baseada no filme (?!?!). Que aliás, conseguiu ser ainda pior que o longa…

Pelo menos também tivemos uma adaptação da história do game para anime. Apesar de também não ser muito fiel à história original, entregou uma boa versão produzida com bastante qualidade e que era muito divertida. Adorávamos acordar nos Sábados de manhã pra assistir o ‘desenho’ do Street Fighter que passava no SBT…

Curioso, que também existem outras versões animadas baseadas em Street Fighter II, algumas até bem boas outras péssimas. Dignas inclusive de serem usadas como meme até hoje. Mas a que ficou na lembrança foi essa e ainda é um anime bem divertido de assistir. Inclusive, encontra-se disponível no catálogo da Netflix.

Street Fighter II ganhou várias versões oficiais que funcionaram basicamente como o que seriam hoje as DLCs, afinal, pouco mudava no game que inclusive mantinha o nome SFII, apenas acrescentando algo a ele como ‘Hyper’, ‘Super’ e/ou ‘Turbo’. O ‘primeiro’ SFII mesmo pouco foi jogado por aqui, o que mais marcou foi o SFII’ que ficou popularmente conhecido “Strit Fait dois e meio”. Nesse você jogava com os 4 chefões e podia escolher o mesmo personagem. Anos depois veio o Super, que tinha mais 4 novos lutadores.

Durante muito tempo achávamos que nunca veríamos um SFIII. E quando ele veio, dá pra dizer que flopou, especialmente quando comparado com seu antecessor. É claro que a franquia conseguiu se reinventar e, na base da persistência, sobreviveu e conseguiu voltar ao patamar que lhe era devido. SFV é um dos, se não o maior game de luta de sua geração e faz jus ao seu ‘tio-avô’.

Seja em anime, live action ou na sua forma principal e original, nos games, Street Fighter 2 continua sendo um fenômeno absurdo na cultura pop. 30 anos depois, ainda é relevante e amado pelo mundo todo.

Pedro Cardoso

Editor do Capacitor, apaixonado por games, filmes e literatura sci-fi/fantástica.

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