88MPH | 1988 – O que era sucesso na música há 30 anos

Sempre aconteceu e, provavelmente, vai continuar acontecendo. Não importa o que esteja fazendo sucesso no momento: vai ter gente criticando na mesma proporção que vai ter gente curtindo. E isso acontece em todos os segmentos da cultura pop.

Veja a música, por exemplo. Ao longo dos tempos, sempre houve algum estilo, grupo ou artista que, apesar de ser muito criticado e até mesmo ridicularizado por muitos, fazia enorme sucesso, quase sempre entre a maioria. E por muitas vezes, esses que são tão criticados acabam virando cult alguns anos depois. Pode apostar que isso certamente acontecerá novamente daqui alguns anos com o que é sucesso hoje. E você mesmo, jovem leitor, pode ser um desses que criticou determinado artista ou estilo hoje e em algumas décadas vai lembrar com nostalgia, possivelmente até elogiar e dizer que ‘antigamente é que era bom’, ou ‘não se faz mais música como antigamente’.

Uma boa forma de medir isso é revendo o que era sucesso em determinada época. Muito ainda toca hoje, muito ficou apenas no fundo da memória e outros até caíram no esquecimento.

No texto de hoje da coluna 88MPH, voltaremos ao ano de 1988, 30 anos atrás, para relembrar (ou apresentar) o que era sucesso e o que foi lançado naquele ano na música.

No âmbito mundial, o Rock n ‘ roll ainda estava dando as cartas e dominava as paradas. O estilo Hard Rock estava em seu auge, e o Guns N’ Roses era o seu principal representante. Depois do sucesso arrebatador de Appetite for Destruction lançado no ano anterior, a gravadora Geffen, de olho nos cifrões que a banda os trazia, lançou o álbum G N’ R Lies, que trazia 4 canções ao vivo lançadas previamente de forma independente em 1986 e mais 4 inéditas, entre elas, duas das que viriam a ser grandes clássicos da banda, as (curiosamente) acústicas Patience e Used to love her. O álbum vendeu nada menos que 500 mil cópias no primeiro dia do lançamento! Curiosidade: ainda nesse ano, Clint Eastwood estrelou um filme intitulado originalmente Dead Pool (mas nada tem a ver com o personagem dos quadrinhos que só fez sua primeira aparição em 1991), no qual a banda fez uma pequena aparição e teve Welcome to the jungle na trilha sonora.

Ainda dentro do rock, mas no já consolidado estilo Heavy Metal, alguns de seus principais representantes lançaram álbuns essenciais para o estilo. O Megadeth lançou o álbum So far, So good… So What!, o Iron Maiden lançou Seventh Son of a Seventh Son, o Slayer veio com South of Heaven e o Metallica nos brindou com …And Justice for All, o quarto álbum da banda e considerado um dos melhores, que traz o super clássico (e também uma das suas melhores canções) One.

Já no campo do rock alternativo, um dos principais álbuns do subgênero, Daydream Nation foi lançado pela banda Sonic Youth. Se você nasceu dos anos 2000 pra cá e curtiu/curte bandas como The Killers, The Strokes e algumas bandas do chamado movimento Indie, você precisa conhecer a obra do Sonic Youth, em especial o álbum Daydream Nation, considerado a obra prima da principal banda desse estilo.

No chamado Pop Rock, tivemos dois lançamentos importantes nesse ano: Stay on these roads do A-ha e Look Sharp! do Roxette. Um fato curioso a respeito das duas bandas é que elas vêm de países fora do eixo mainstream EUA – Reino Unido: Noruega e Suécia, respectivamente.

Stay on these roads foi o álbum de estúdio do A-ha, e trouxe alguns dos singles mais famosos da banda, como a faixa título do álbum, The Living Daylights que foi trilha sonora do filme homônimo do agente 007 e You are the one. Há ainda, o single que só foi lançado no Brasil There’s never a forever thing, que tocou muito nas rádios por aqui.

Já Look Sharp!, foi ainda mais marcante, pois foi responsável por alçar o Roxette ao sucesso internacional. Além do mais, dele saíram alguns dos maiores sucessos da banda: The Look, Dangerous, Listen to your heart e Dressed for success.

Ainda no pop rock, 1988 foi um ano marcante no que diz respeito a shows. Um dos maiores ícones do gênero de todos os tempo, talvez até uma das precursoras do mesmo, Tina Turner fez uma apresentação histórica no Maracanã. O show foi transmitido ao vivo para o mundo inteiro e entrou para o Guinnes Book como o maior show já feito por uma cantora solo, tendo levado 188 mil pessoas ao estádio.

Já que estamos em território nacional, 1988 também foi um ano interessante para a música por aqui. Cazuza lançou o disco Ideologia, que além da faixa título, trazia também a até hoje relevante Brasil e a excelente Faz parte do meu show, que misturava Bossa Nova com música orquestral (algo a frente de seu tempo, quando pensamos em 1988). Esse é considerado o melhor álbum do artista e vendeu cerca de 2,5 milhões de cópias.

No âmbito do pop nacional, duas apresentadoras de programas infantis tiveram grande importância no cenário musical: Angélica lançou seu primeiro álbum que incluía o seu principal hit até hoje: Vou de táxi; além dela e ainda mais importante, Xuxa lançou seu quarto álbum de estúdio: Xou da Xuxa 3 (sim, apesar do ‘3’ no título é quarto álbum!).

E quando é dito que tiveram ‘grande importância’, é sério! O álbum de Angélica vendeu 200 mil cópias em apenas duas semanas, e mais de um milhão no total. Já o de Xuxa, vendeu nada menos que 3,2 milhões de cópias, sendo o segundo álbum mais vendido da história no Brasil, ficando atrás apenas de Músicas para louvar ao Senhor, do Padre Marcelo Rossi que vendeu ‘apenas’ cerca de 100 mil cópias a mais e só foi lançado 10 anos depois. O dado é realmente impressionante.

Nesse álbum, fomos apresentados àquela que seria talvez a canção mais famosa interpretada por Xuxa: Ilariê. Junto com ela, temos outros clássicos da música infantil que até hoje povoam as festinhas dos mais saudosos (e não estamos falando apenas de festas infantis): Brincar de Índio, Arco-Íris, Abecedário da Xuxa (que até virou meme a pouco tempo) e Dança da Xuxa.

Além do saudosismo de quem viveu essa época e das influências musicais que 1988 até hoje representa, esse ano também é o de nascença de grandes representantes da música contemporânea como Jessie J, Adele, Hayley Williams e Rihanna. Todas, obviamente, completando 30 anos agora em 2018.

Conforme dito anteriormente, muitas vezes tendemos a criticar e nos afastar daquilo que nos é contemporâneo. Seja porque somos alheios aos modismos ou porque simplesmente caímos no senso comum de que ‘se é atual, não presta’ e, por consequência, ‘só curto coisa velha’. Pois aí estão alguns exemplos do que hoje é considerado ‘coisa velha’ por muita gente. Muitos, dirão que não curtem ainda hoje e muitos outros dirão que detestavam e/ou criticavam na época. Há ainda aqueles que fazem isso hoje. Assim como certamente, há aqueles que vão olhar pra essa lista e pensar ‘nossa, não curtia isso na época, mas hoje até acho legal… e certamente é bem melhor do que o que está fazendo sucesso hoje!’

O fato é que essa coisa de olhar para o passado, pelo menos para ver o que está fazendo aniversário, pode nos ensinar muito sobre cultura e e até mesmo como funcionam alguns ciclos da sociedade e, por que não, da vida. O lixo de hoje pode ser o cult de amanhã e muito do que você ignora, por vezes voluntariamente, pode ser histórico e relevante por muitos anos ainda, se tornando influência de algo que você ainda virá a gostar.

Pedro Cardoso

Editor do Capacitor, apaixonado por games, filmes e literatura sci-fi/fantástica.

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