88Mph | 15 anos de Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças
Se você pudesse apagar da sua memória qualquer coisa em específico, qualquer situação que você acredita que tenha sido ruim e você não gostaria de lembrar, ou mais especificamente, se você pudesse apagar uma pessoa e todos os momentos que você teve com ela, você faria?
Essa é, mais ou menos, a premissa de Brilho eterno de uma mente sem lembranças. O filme conta a história de de Joel (Jim Carrey) e Clementine (Kate Winslet) e conta com coadjuvantes de peso como Mark Ruffalo, Elijah Wood e Kirsten Dunst.
O filme completou 15 anos de seu lançamento nos EUA no última dia 19 de Março (no Brasil foi lançado apenas em 23 de Julho). Contudo, e mesmo tendo ganhado um Oscar de Melhor Roteiro Original, muita gente não o conhece e ele acabou entrando para o rol de filmes considerados cult.
De fato, este não é um filme para qualquer gosto ou talvez para o público convencional. É um filme que é até difícil de se categorizar: pende mais para o lado do drama, mas tem um bom espaço para ficção científica e há até quem considere comédia dramática. Para tornar ainda mais complexo, sua cronologia é um tanto confusa e só se revela de fato ao final.
Mas é justamente essa dificuldade de acompanhar, esse estranhamento, as câmeras em perspectiva diferente, a iluminação que deixa todo o cenário escuro e foca somente nos atores que estão em destaque na cena (tal qual acontece no teatro), e muitos outros recursos visuais e narrativos que tornam o filme tão interessante.
Como a história trata de um casal que apaga um ao outro de suas memórias, o cenário e todo em torno em que eles estão envolvidos e que caracteriza uma memória a ser apagada, desaba, some do nada, muda de uma hora pra outra para outro lugar totalmente diferente. Nos envolve de tal forma que a gente realmente sente que faz parte das memórias se desfazendo.
E aos mais atentos, conseguem ainda perceber detalhes muito bem colocados pela direção de arte, como livros nas prateleiras de uma livraria cujas capas vão se apagando, placas nas ruas que somem… São apenas detalhes, mas que fazem muita diferença na experiência.
Outro aspecto técnico é a famosa palheta de cores. Em diversas ocasiões o filme enfatiza o frio e as cores deixam isso ainda mais evidente. E a única coisa que destoa é Clementine, personagem de Kate Winslet. Sempre com cabelos com cores ‘diferentes’ e vibrantes e seu famoso moletom laranja. E eles dizem muito a respeito da personagem, impulsiva, vibrante e vívida.
Para aqueles que vêem apenas a história e conseguem a separar da arte (ou não a percebem ou entendem), esta é bem envolvente. O espectador começa o filme achando aquela relação entre Joel e Clementine fadada a dar errado, mesmo torcendo para dar certo, por essas razões que casais nos encantam em filmes. Mas ao longo do filme já não se sabe mais o que se quer, o destino do casal deixa de ficar previsível, outras tramas se apresentam e se desenvolvem, há plot twists…
Se você é daqueles que conseguem ver nas entrelinhas da obra, há boas questões levantadas aqui. Dilemas éticos e morais, você pode até encontrar filosofia nele. O mais interessante é: vale a pena apagar os momentos e memórias ruins da sua vida? Não é a soma de todas as suas experiências, boas ou ruins, que fazem de você o que você é hoje? E será que essas experiências são assim tão ruins que mereçam ser apagadas? Ou você simplesmente não sabe lidar com perdas e tem medo de encará-las?
Seja pela arte, seja pelas questões éticas, filosóficas e psicológicas, seja pelo elenco estelar ou ainda pelas belas e convincentes atuações de Jim Carrey e Kate Winslet ou por qualquer outra razão que você possa perceber assim que os créditos subirem. Se você já assistiu a Brilho eterno de uma mente sem lembranças, assista novamente e provavelmente perceberá algo novo. Se nunca o assistiu, aproveite esse aniversário de 15 anos da obra e corrija esse equívoco. Esse é um filme que você não pode ‘não assistir’ se você é fã de cinema.