Resenha | A Nuvem – Neal Shusterman
Em A Nuvem, sequência da trilogia Scythe, que deu início em O Ceifador, parte do mundo perfeito criado pelo autor Neal Shusterman está entrando em colapso, e resta aos nossos dois protagonistas impedir que a corrupção da Ceifa acabe com a humanidade.
No volume de abertura da trilogia, conhecemos um mundo onde a perfeição foi alcançada. Doenças e problemas não existem mais, a natureza está em harmonia com a humanidade, tudo isso graças a Nimbo-Cúmulo, um tipo de inteligência artificial. Contudo, mesmo que a morte não seja mais uma certeza e as pessoas possam ser revividas quantas vezes quiserem, essa perfeição não se aplica aos Ceifadores, responsáveis por manter o crescimento populacional.
Citra e Rowan realizaram o teste final da Ceifa e agora estão em realidades diferentes, ambos preocupados com o destino da instituição e agindo de acordo a seus próprios princípios; ela tenta inspirar os jovens a matar com compaixão e respeito; ele assume nova identidade para poder arrancar a corrupção entre os ceifadores pela raiz. O que nenhum pode saber, porque a Nimbo-Cúmulo não pode interferir na gestão da Ceifa, é que a Nimbo enxerga tudo e, através de terceiros, tentará ao máximo salvar os ceifadores da queda.
Shusterman criou quatro pontos de vista que se intercalam entre si. Além dos dois novos ceifadores, um novo rosto aparece, dando tato aos intuitos da Nimbo, que é a quarta protagonista desse livro. Em A Nuvem, o leitor consegue entender um pouco mais como esse mundo utópico funciona. Simultaneamente, concluimos que faz parte da humanidade causar problema, criar obstáculos e sempre buscar por mais, mesmo que isso ofenda o próximo.
Tenho uma relação conturbada com essa trilogia, porque consigo enxergar todo um cenário perfeito onde essa história poderia ser contada, da forma que poderia ser contada, mas existe alguns defeitos que, mesmo não me afastando da obra, me perseguem. O primeiro deles é a intenção de introduzir pensamentos tanto filosóficos quanto sociológicos, mas utilizar de diálogos extremamente infantis, onde todo e qualquer personagem, de 18 ou de 150 anos, tem a mesma voz. Chega a ser cômico determinadas cenas de tensão, de frente a indivíduos idolatrados pela experiência, cair em um poço de piadinhas desnecessárias.
O segundo problema é que nenhum personagem é, de fato, desenvolvido. É preciso mais do que um objetivo pra criar alguém palpável. Ainda não consigo imaginar Citra ou Rowan fisicamente, da mesma forma que tenho dúvidas quanto a suas ações porque não tenho certeza se condiz com quem são. Mas, como falei, é uma situação complexa para mim. Apesar dos defeitos, tenho um apego pela ideia do universo, ainda vejo a história sendo adaptada. A tradução pode ter sido falha e ter atrapalhado minha experiência? Sim. Fui com muita expectativa e as falhas me decepcionaram? Também. Então, provavelmente, seja por isso que não consigo abandonar e, principalmente, ainda indico a leitura porque a forma que nos é entregue pode agradar outras pessoas.