Game os Thrones S08E04 | Jogo das Cunhadas

• Pedro Cardoso


• 6 maio 2019

Aviso: Esse artigo contém spoilers dos episódios exibidos de Game of Thrones.

Depois de um episódio grandioso que dividiu o público, Game of Thrones retorna com um episódio mais calmo para medir as consequências da guerra e preparar o terreno para os conflitos que virão.

De volta às tramoias

Findada a batalha contra os Caminhantes Brancos, conflito de construção demorada, conclusão rápida e poucas consequências, a série retoma o seu ritmo normal e volta seu foco para a batalha que durante anos ouvimos dizer que não era a mais importante.

No entanto, vale ressaltar que o clima de conspiração e conversas de corredores é onde a série costuma se sair melhor e aqui não foi diferente. As tramas retornando trazem de volta uma certa tensão e um clima de perigo que há algum tempo a série não mostrava.

Um dos maiores destaques do episódio ficam por conta de Tyrion Lannister e Varys, que trouxeram excelentes diálogos e uma perspectiva de momentos mais tensos, como há tempos não víamos na série. Os personagens, que há algum tempo estavam subutilizados, finalmente mostram que terão grande importância nesta reta final.

Descaracterizações

Em sua corrida para fechar os arcos e encerrar a série, Game of Thrones tem criado situações que descaracterizam totalmente seus personagens para que o roteiro siga o curo, abrindo mão de toda a coerência, que sempre foi um ponto marcante da série.

Daenerys Targaryen, que sempre olhou pelo povo que queria libertar, se importava com os indivíduos e conquistou seu espaço demonstrando força, coragem e sagacidade tornou-se apenas alguém obcecada pelo trono sem medir as consequências que sua ambição pode trazer.

O fato dela implorar para que Jon Snow esconda suas origens para que ela possa ser rainha, mostra uma personagem cheia de medos e covardias que não condiz com a longa e bem trabalhada construção da personagem ao longo das sete temporadas anteriores. Obviamente, a arrogância e prepotência podiam fazer parte da personagem dada a sua ascendência. Contudo, as escolhas recentes do roteiro são um total desserviço a uma das personagens mais proeminentes da série.

Jon Snow (ou Aegon Targaryen), por outro lado, alguém que sempre olhou pelos outros e enxergou um bem maior colocando a si mesmo em risco para cumprir o seu propósito tornou-se alguém que se exime das situações e pouco sabe defender o seu ponto, tornando-se apenas um ponto de convergência no conflito entre cunhadas.

Isso sem falar na frieza para com alguns “personagens” da trama que deveriam ser importante e agora pouco significam para o personagem, como Fantasma.

Covarde demais para concluir diálogos

Interromper diálogos em seus momentos mais dramáticos não é uma técnica rara no audiovisual. No entanto, em uma série que sempre soube trabalhar seus diálogos de maneira magistral como Game of Thrones, o artifício soa covarde, especialmente quando usado de forma excessiva.

A série constantemente vem interrompendo ou cortando diálogos relevantes, em uma clara tentativa de postergar um assunto ou de manter um mistério, enquanto o momento deveria ser de impactar. Uma vez ou duas funcionam, mas quando torna-se um padrão é sinal de que algo está errado.

Assim, quando Bran está prestes a contar o segredo de Jon para as irmãs Stark, mais uma vez fomos privados da reação destas personagens sobre a maior revelação da série.

É extremamente incômodo que sejamos privados de quase todas as reações dos personagens ante a revelação da ascendência de Jon Snow, especialmente quando uma das únicas que tivemos foi fria e confusa.

Conclusão

Após um episódio que deixou um gosto amargo em muitos fãs, Game of Thrones entrega um episódio superior mas que ainda sofre de diversos problemas que a este altura nos acompanharão até o final da série.

Com diálogos mais bem trabalhados e as famosas tramas e traições se desenhando, a série consegue nos lembrar em alguns momentos o porque a amamos tanto. No entanto, é bom lembrarmos que assim como muitos personagens ela mudou de maneira brusca, e não foi pra melhor.

Em uma série em que as ações costumavam ter um preço e consequências de modo coerente e verossímil, deixamos de acompanhar a adaptação da obra de George R.R. Martin para ver o desfecho da vontade dos roteiristas.