Crítica | The Circle Brasil (Netflix)

Crescemos ouvindo que não podemos agradar a todos, certo? Para a Netflix isso é um pouco diferente, até porque ao longo dos anos a plataforma de streaming está cada vez mais empenhada em trazer suas produções originais dos mais diversos gêneros. Os realities shows estão conquistando um número considerado de telespectador. Dessa vez, após a versão norte-americana, The Circle Brasil chegou para nós.

Diferente dos Estados Unidos que todos os episódios foram disponibilizados no mesmo dia, aqui no Brasil foi dividido em três partes de quatro episódios cada, totalizando doze. Apresentado por Giovanna Ewbank, a proposta é mostrar como uma pessoa comum pode se tornar um influenciador.

Confinados cada um em seu apartamento, os participantes interagem entre si por meio da rede social The Circle, movida unicamente por comando de voz. Causar boa impressão é o principal objetivo para chegar a final, por isso os jogadores tem a permissão para criar seu perfil: com duas fotos, um pequena biografia, idade e status de relacionamento. Mas um detalhe torna as coisas mais interessantes: eles podem ser quem quiser, até um completo fake.

Durante dias, os participantes vão conversando para se conhecerem e, futuramente, formarem alianças. Eles passam por uma classificação diária para decidir dois influenciadores que poderão bloquear – ou seja, eliminar – alguém. Os dois mais votados vão para a “sala azul” e acordam sobre quem deve abandonar a disputa. O eliminado é automaticamente tirado da rede social, sem poder se despedir… exceto de uma pessoa a sua escolha.

A visita final é um grande momento de tensão, possibilitando que algumas máscaras caiam, fakes podendo ser descobertos e, graças ao último vídeo do eliminado deixado no feed, qualquer informação é permitida.

A primeira leva chega com nove participantes, sendo eles perfis verdadeiros e fakes, alguns com pequenas mentiras, outros totalmente fiéis a quem são realmente. Temos Akel (chama atenção por seu divertimento e preocupação em estar mentindo alguns detalhes, como idade e profissão), Marina (na versão americana nós vimos que a primeira mulher plus size a entrar preferiu se passar por sua melhor amiga, tentando a estratégia do esteriótipo; aqui no país, a participante preferiu entrar como é, mentindo coisas irrelevantes para sua imagem), JP, Lorayne, Dumaresq, Ana Carla, Gaybol, Lucas (na verdade, Paloma, a melhor amiga do rapaz apresentado nas fotos) e Julia (ou melhor, Raf, um tiozão que tem certa dificuldade em manter seu disfarce).

Enquanto nenhum deles é eliminado, dando espaço para novos rostos, vamos nos familiarizando tanto com o personagem criado quanto pelas suas versões reais. É estranho, de um modo divertido, nos perceber torcendo pela pessoas por trás da tela, mesmo sabendo que os outros jogadores estão vendo apenas a imagem mostrada na rede social e as informações que podem ou não ser manipuladas.

Para fazer com que a competição se torne mais complexa, exigindo sacadas e estratégias, ameaçando criar ou terminar alianças, os participantes recebem “alertas” sobre rápidos jogos, como perguntas e respostas diretas, e também a chance de pintar um deles num quadro que será mostrado aos outros no feed. Sem perceber, acabam contrariando o próprio jogo e, consequentemente, caindo no ranking das avaliações.

A grande pergunta do jogo é: tudo não passa de uma estratégia para ganhar os RS$ 300 mil reais ou eles estão escolhendo seguir o coração? Responder a isso é complicado para quem os acompanha; apesar de pouco tempo, conseguimos nos aproximar, conhecer, decidir por quem torcer ou tirar da disputa, tudo dentro de uma montanha russas de sentimentos, veracidades e táticas. É possível analisar os pensamentos dos jogadores através de míseros detalhes: alguns deles estão mais preocupados em descobrir quem é fake e, por isso, eliminá-lo, do que usar seu tempo dentro do programa para mostrar quem é e por que deveria ficar.

Por lógica, quem tem mais chance de levar o prêmio para casa está entre os nove iniciantes. O reality passa a inserir novos perfis do meio da temporada para o fim, quando amizades e alianças já foram criadas, dificultando para os novatos conseguir espaço. No entanto, na versão brasileira, os irmãos gêmeos, Lucas e Marcel, que criaram o perfil da Luma, deram um jeito de conquistar os colegas de apartamento; assim como Ana, o pseudônimo de Raf, talvez um dos melhores jogadores por saber analisar, usar as melhores piadas e trazer um humor ácido dentro e fora do The Circle. Renan, por outro lado, chegou nos últimos minutos do segundo tempo, aproveitando quase nada da experiência.

Em um mundo tecnológico regido por encantamento, holofotes, desconfianças, sinceridade e/ou descredibilidade, o reality é um desafio imposto a todos nós: de jogadores ao público. O maior ponto positivo é a diversidade das pessoas, sendo elas jogadores fakes ou não – até porque, do lado de fora, vemos as duas fachadas. Principalmente no The Circle Brasil, há destaque para Marina e Dumaresq, que defendem sexualidade e criticam esteriótipos com tanta naturalidade que suas imagens se tornam referência para os grupos.

Influenciar, atualmente, significa hobby para alguns e uma profissão para outros. Além do grande prêmio em dinheiro, há uma preocupação, principalmente dos fakes, em querer se mostrar para o público como uma pessoa real, de sentimentos e ações verdadeiros, mesmo que o pequeno ícone dentro da tela seja referente a outra pessoa. Eles dizem muito mais sobre sua postura na sociedade fora do chat do que dentro.

The Circle Brasil não deixa dúvidas sobre uma ótima escolha para entretenimento. Sustentando uma postura de necessidade do início ao fim, vai atingir seu público diretamente de forma única. Os participantes podem não se tornarem grandes influenciadores aqui fora por muito tempo, mas é suficiente para o programa que suas passagens tenham deixado memórias e ensinamentos. Ei, The Circle, pode fechar o chat, desde que prometa reabri-lo em breve. A ansiedade para a segunda temporada está batendo na porta #gratiluz.

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