Crítica | Summertime – 1ª Temporada (Netflix)

Algumas produções surgem para mim e, sem pensar duas vezes, dou a chance. Porque é mais fácil do que perder aquelas típicas duas ou três horas procurando algo para assistir na Netflix, não é? Bem, ultimamente tenho me surpreendido com a maioria, mas algumas, infelizmente, eu preciso me esforçar para encontrar o lado bom do tempo dedicado.

Summertime, nome original do novo romance italiano da Netflix, pode ser encontrado pelos brasileiros na plataforma também como “Três Metros Acima do Céu“, nome do livro de Federico Moccia, a obra inspiração para esta produção. O romance dramático contará a história de Summer e um grupo de amigos sobrevivendo a um verão na costa Adriática, o que significa belas paisagens de mar, areia e pessoas usando muitas cores.

Summer (Coco Rebecca) odeia a estação que leva seu nome. Para fugir de mais três meses de pura diversão, ela arruma um emprego temporário para abafar os problemas familiares que a atormentam. Seu pai é músico e vive longe de casa, em viagens, e sua mãe, que precisou largar a música para cuidar dos filhos, sofre com o distanciamente e a frustração. A filha mais nova, Blue, pode não perceber os detalhes que ameaçam a saúde psicológica da mulher, mas Summer se preocupa com o futuro da família.

Ao lado dos dois melhores amigos, eles são o típico trio inseperável que não se encaixa em nenhum outro ambiente. Sofia (Amanda Campana) é a garota lésbica que adora conhecer várias pessoas e curtir as festinhas promovidas pela classe alta da cidade. Já Ale (Giovanni Maini) é tímido e gentil, sempre ajuda o próximo e não pretende arriscar grandes passos na vida. Summer, por sua vez, parece ser racional e prática, sua forma de lidar com os obstáculos chega a ser fria, mas é claro o quanto ama família e amigos.

Durante uma festa, Sofia se torna amiga de Dario (Andrea Lattanzi), o DJ que faz parte de um grupo de amigos homens conhecido na redondeza por fazerem grandes farras. Enquanto isso, Summer se esbarra em Edo (Ludovico Tersigni), um jovem motociclista reconhecido tanto pelo profissional como pelo pessoal. A partir daí, digamos que as coisas são levadas pelo destino.

Se fosse apenas mais um clichê, talvez eu viesse a gostar. Mas até os clichês tem algum objetivo, seus personagens tem metas e sonhos, e fazem algo para alcançar. Ou, às vezes, fazer nada também é um posicionamento que alerta o público a pensar sobre assuntos ainda mais profundos. Mas Summertime, mesmo que traga diversidade, é vazia de objetivos e de personagens atraentes. A maioria dos atores dão vida a personalidade básica de cada um – e quanto a atuação, não tenho crítica -, mas é preciso muito mais do que timidez ou arrogância para compor um ser humano.

Sofia e Dario, se tivessem tempo de cena maior, seriam muito bem aproveitados, mesmo que, no contexto geral, sejam a parte positiva da série. A amizade dos dois cresce baseada em seus gostos similares e a compreensão que tem ao se conhecerem. Ale é o sentimental e a bondade, onde deveríamos ver esquisitos diálogos profundos de adolescentes saindo do ensino médio, mas o garoto ganha pouco espaço para qualquer tipo de conquista; seu tempo, no entanto, é agradável aos olhos e ouvidos, graças a sua sensibilidade e a forma como se joga nos relacionamentos.

Os oito episódios com cerca de 45 minutos focam num romance raso, sem terreno, onde as duas partes, Summer e Edo, não se preocupam em conhecer o outro realmente. Há muita cena musical com fotografias lindas, afinal, o cenário é de encher os olhos. Mais parece que inverteram a ordem das coisas, mostrando um casal apaixonado vivenciando maravilhas, do que realmente um amor avassalor que irá lutar contra o mundo para se manter firme.

Se não bastasse, quase não há conflito, nenhum plot twist, isento de produzir ansiedade, choque ou desespero em quem assiste. Estar apaixonado pela ex do melhor amigo não gera, de fato, um impasse. Se apaixonar pela sua melhor amiga, tampouco. Ser negra ou lésbica não geram debates que nos farão questionar o rumo da nossa sociedade atual, e a série não está preocupada em ter grandes posicionamentos.

Como falei no início, eu sempre procuro um lado bom das coisas. Summertime, em todas suas falhas, passa rápido como um piscar de olhos, capaz de mantê-lo durante uma maratona, mas não vá esperando lembrar dos nomes dos personagens ou visando ter um debate com seu amigo sobre determinado assunto ligado à série. Sol, praia e mar é o combo quase infalível para deixar qualquer pessoa se sentindo mais leve, e esse é o lado positivo.

Acredito, por fim, que Summertime deveria ter sido pensada pelo produtor Francesco Lagi para servir em um longa (como Paixão Sem Limites, filme de 2010 inspirado na mesma obra literária), ao invés de tantos minutos desperdiçados. Outras séries, como Você Nem Imagina, teria feito melhor proveito.

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