Review | Assassin’s Creed Mirage
Tendo seu primeiro jogo lançado em 2007, a franquia Assassin’s Creed se transformou muito ao longo desses mais de 15 anos, passando por mudanças em seu gênero de jogo e também em sua narrativa. O que começou como uma saga épica e histórica que envolvia os conflitos entre Templários e a irmandade dos Assassinos se tornou algo muito maior, a ponto de alguns jogos abordarem essa rivalidade de forma bem superficial.
Em paralelo, a sua jogabilidade também foi deixando de ser um jogo de ação/aventura mais direcionado e storydriven para se tornar algo mais na linha dos RPGs que fizeram sucesso na última década, como The Witcher. E, apesar de muitos sucessos, sempre existiram fãs que apontavam uma descaracterização da franquia, que aos poucos foi perdendo o que a destacava das demais.
Nesse espírito surge Assassin’s Creed Mirage, game lançado em 2003 pela Ubisoft com a promessa de resgatar as raízes da franquia Assassin’s Creed, trazendo de volta todos os elementos que tornaram a franquia um dos maiores fenômenos da geração dos consoles em que estreiou.
A volta da irmandade
A irmandade esteve presente na última trilogia da franquia (Origins, Odyssey e Valhalla). Mas dizer que ela era uma parte dominante da narrativa não seria correto. Com isso, a franquia abriu espaço para introduzir novos elementos, narrativos e de gameplay, que expandiram muito o universo mas que também deixou saudade nos fãs mais tradicionais da franquia.
Em Mirage, o foco volta totalmente para a irmandade e visitamos um período mais próximo ao que se passava o primeiro game, cujo protagonista era Altair. Com isso, sentimos uma proximidade ao jogo original da franquia, especialmente pela região localizada, a de Bagdá, que guarda suas semelhanças com a região da primeira aventura da série.
No game, imergimos mais no histórico da irmandade, seus ritos e mais uma vez nos vemos envolvidos no emblemático combate entre Assassinos e Templários de uma forma mais proeminente.
Nada é verdade
Por conta deste resgate, Assassin’s Creed Mirage consegue evocar um gosto de familiariedade em relação aos games anteriores, mas sem abrir mão de tudo que a trilogia anterior introduziu na franquia, sobretudo no avanço de gameplay. Aqui a jogabilidade está mais fluida do que nunca, especialmente por conta do escopo mais limitado. A sensação de necessitar de muito grinding para prosseguir com a narrativa deu espaço a uma trama mais direta e envolvente, coisa que senti muita falta nos games anteriores.
A Bagdá criada para este game é sem dúvidas um dos melhores e mais belos cenários já feitos em toda a franquia. Os ambientes são ricos e povoados, há uma quantidade menor de espaços abertos vazios e as missões secundárias ainda são bem interessantes e me passou uma sensação de que quebram menos a narrativa que os games anteriores.
Tudo é permitido
O combate também mostrou evoluções, sobretudo ao mostrar que os desenvolvedores se desprenderam um pouco da fórmula soulslike e tentaram fazer algo novo utilizando do que aprenderam ao longo desses anos. O resultado disso é um combate que precisa de ritmo, atenção, observação de padrões, mas sem deixar a coisa muito mecânica e travada.
O parkour voltou com bastante força, especialmente por ter uma cidade densa de construções, em vez de regiões espaçadas, que permitem transitar pelos telhados da forma que se tornou um dos maiores símbolos da franquia.
Uma coisa que senti falta na versão em que joguei, a do PlayStation 5, foi ter mais uso para o DualSense e suas vantagens, como os gatilhos dinâmicos. São poucos os momentos em que se sente que o game pensa na ferramenta e a usa em favor da imersão na narrativa.
Uma nova lenda
O game é centrado em Basim Ibn Ishaq, personagem em que a partir de uma amostra de DNA conheceremos a sua trajetória na irmandade e sua luta contra os templários por volta do ano de 860 D.C. Acompanhamos a sua história desde os tempos onde era um ladrão de rua, passando por sua entrada na irmandade e indo muito além passando por diversos momentos marcantes em uma trama que não vale a pena trazer spoilers aqui.
Apesar de não ser a melhor história da franquia, o ar semelhante ao primeiro game e a narrativa mais madura depois de dezenas de jogos, Assassin’s Creed Mirage mostrou muita maturidade em evoluir a sua fórmula, introduzindo novos elementos com uma roupagem voltada pros primeiros games da franquia.
Conclusão
Assassin’s Creed Mirage não é uma surpresa, mas é um feliz, e necessário, retorno de uma franquia que tentou abraçar o mundo, incluir elementos diversos e acabou, ao longo de muitos jogos, se descaracterizando a ponto de se tornar algo que não agradou a todos os fãs da franquia. Aqui nota-se um resgate de tudo aquilo que construiu a base para as dezenas de jogos que se lançariam e que inseririam o lore da franquia no imaginário popular.
Apesar de não ser fruto de uma receita misteriosa, Assassin’s Creed Mirage é um sucesso justamente por olhar para si e oferecer aquilo que sempre teve de melhor, com muito cuidado e respeitando o seu legado. Seja você um fã da franquia ou alguém que nunca a experimentou, o game certamente vai te engajar e te manter preso ao longo de toda a trajetória de Basim.
Esta review foi realizada com uma cópia do jogo para PS5 cedida pela assessoria da Ubisoft.