Resenha | Pequeno Manual Antirracista – Djamila Ribeiro

O mês de Novembro é marcado, por entre outras datas cívicas, como o mês da Consciência Negra, tendo no dia 20, sua celebração nacional. Tal data, ao mesmo tempo em que relembra a morte de Zumbi dos Palmares – último líder do quilombo dos Palmares, assassinado em 1695; também o homenageia, afinal ele foi um dos líderes mais importantes da América Latina, por trazer consigo a consciência da luta pelo seu coletivo.

Anos após sua morte, o legado de Zumbi e de tantos outros que lutaram contra a escravidão continuam mais vivo do que nunca, afinal o racismo tem estado cada vez mais presente nas relações humanas.

falar sobre racismo no Brasil é, sobretudo, fazer um debate estrutural. É fundamental trazer a perspectiva histórica e começar pela relação entre escravidão e racismo, mapeando suas consequências. Deve-se pensar como esse sistema vem beneficiando economicamente por toda história a população branca, ao passo que a negra, tratada como mercadoria, não teve acesso a direitos básicos e à distribuição de riquezas.

Visando mudar esse quadro criminoso e de inúmeras injustiças existe um coletivo de pensadores e militantes negros, que lutam incansavelmente contra esse mal, sendo a Djamila Ribeiro, uma dessas vozes.

Djamila Ribeiro

Djamila Ribeiro em sua obra intitulada Pequeno Manual Antirracista, lançada pela Editora Companhia das Letras, aponta o racismo como um sistema de opressão que nega direitos, e vai além ao argumentar que a ação antirracista é urgente, diária e que deve ser travada por todas e todos.

O conceito de lugar de fala discute justamente o locus social, isto é, de que ponto as pessoas partem para pensar e existir no mundo, de acordo com as suas experiências em comum.

Assim se reconhecer como racista é um primeiro passo para que possamos mudar. Por mais “amigos negros que tenhamos”, em algum momento nós terminamos contribuindo para que o preconceito exista – seja através da omissão, ou até mesmo reproduzindo alguma fala ou atitude, fruto de uma educação que sempre teve como alicerce os objetivos e a visão de um grupo dominante.

O privilégio social resulta no privilégio epistêmico, que deve ser confrontado para que a história não seja contada apenas pelo ponto de vista do poder. É danoso que, numa sociedade, as pessoas não conheçam a história dos povos que a construíram.

Diante disso, a obra da Djamila Ribeiro se torna algo essencial para quem ainda não sabe como mudar de atitude. Pois, no seu Pequeno Manual, a autora apresenta 10 lições que instrui, através de uma linguagem firme, contudo acolhedora, e serve como um convite para conhecermos a causa e um caminho para quem quer fazer parte da luta antirracista. A leitura é muito fluída e rápida, muito por conta da linguagem acessível com que a autora utiliza. Djamila também é muito feliz, em trazer ao longo de todo o livro, referências de autores negros e dados estatísticos que embasam o que está sendo dito.

Pequeno Manual Antirracista nos convida, a todo momento, a refletirmos sobre a sociedade em que vivemos e sobre as nossas ações do cotidiano, através de subtemas como: negritude, branquitude, apropriação cultural, sexualização. Concluída a leitura, nos daremos conta que recebemos como presente, um caminho, que não pretende ser finalístico – como a própria autora informa -, mas sim, algo sugestivo que passa por atitudes que nos farão crescer como cidadãos e, principalmente, seres humanos.