Resenha | O Jardim Secreto – Frances Hodgson Burnett
No mundo literário existem muitas obras conhecidas como Clássicos. São livros que possuem personagens atemporais e marcam inúmeras gerações de leitores, que mantêm a história viva e contribuem para o surgimento de novos fãs.
Uma dessas obras clássicas é O Jardim Secreto, da escritora Frances Hodgson Burnett, lançado inicialmente em 1911 e que ganha mais uma edição pelas mãos da editora Zahar; com tradução atualizada, comentário da obra, curiosidades sobre a autora, cronologia da vida e a obra da Burnett e uma linda capa dura.
A trama do O Jardim Secreto gira em torno da jovem Mary Lennox, uma criança mimada e mal-humorada que nunca se sentiu amada, que se torna órfã após uma tragédia e precisar sair de sua casa – nas Índias – para morar com um tio misterioso na Inglaterra. Essa mudança de lar vai ensiná-la que a vida sempre estará pronta para acolher aqueles que estão dispostos a se aventurar.
A primeira vez que tomei conhecimento da história O Jardim Secreto foi através do filme lançado em 1993 e protagonizado por Kate Maberly e pude revisitar essa emocionante narrativa com a nova adaptação lançada em 2020 e protagonizada por Dixie Egerickx. Ao fim dos dois filmes, me senti muito emocionado e tocado pela forma singela da narrativa e pela bonita mensagem passada. Contudo, ao finalizar a leitura do livro pude constatar que eu não tinha compreendido todas as mensagens que a história trazia e que a obra se torna ainda mais relevante e necessária pelos temas abordados.
A escrita da Burnett é fluída e muito cativante. Ao longa da leitura, o leitor vai tendo suas emoções despertadas – como a alegria, angústia, tristeza, compaixão, raiva, medo e muitas outras – graças aos personagens cativantes e situações que criam uma rápida identificação.
Ainda é fundamental que se diga, o quanto a Burnett foi corajosa e feliz, por trazer nessas páginas seus dramas pessoais e assim fazer com que se discuta temas como o luto e a depressão. Esses temas provam como a obra é atemporal, pois são temas extremamente atuais e necessários para que sejam debatidos. Ainda sobre essa temática é importante pontuar que eles servem como ponto de partida da história- e justificativa para o comportamento dos personagens principais – e que aos poucos são transformados, na medida que o Jardim vai desabrochando – o que serve como uma metáfora interessante sobre o autocuidado e o poder dos nossos pensamentos.
“A cada novo século, desde o começo do mundo, coisas maravilhosas vêm sendo descobertas. Nos últimos cem anos, mais coisas foram descobertas do que em qualquer outra época… Uma das coisas que as pessoas começaram a descobrir no último século é que os pensamentos são tão poderosos quanto baterias elétricas e podem ser tão benéficos quanto a luz do sol, ou tão nocivos quanto um veneno. Permitir que um pensamento triste ou sombrio entre na cabeça é tão perigoso quanto deixar o germe … penetrar no corpo. Se a gente o deixa ficar depois que ele entra, corre o risco de nunca mais se livrar dele pelo resto da vida.”
O Jardim Secreto é um clássico infanto juvenil, recomendado para todas as pessoas que buscam uma obra edificante e com uma mensagem importante, e que convida a todos para voltarmos para nosso interior e tirar as ervas daninhas, deixando espaço para que a alma floresça.
“Uma das coisas estranhas de viver neste mundo é que só de vez em quando somos capazes de sentir, com toda a certeza, que viveremos para todo o sempre. Isso acontece às vezes, quando acordamos naquela hora suave e solene da madrugada, saímos de casa, ficamos sozinhos … e vemos coisas maravilhosas começarem a acontecer… Ela às vezes também surge, quando estamos sozinhos num bosque, ao pôr do sol… E às vezes é ainda mais simples: basta o som de uma música distante ou a expressão nos olhos de alguém.”