Resenha | Legend – Marie Lu

Li Legend pela segunda vez para fazer esta resenha, mudando meu recorde de leitura para cinco horas. Os motivos? A junção de leveza e profundidade, rapidez e detalhe, humanização e emoção. Legend é o primeiro livro da trilogia escrita pela chinesa Marie Lu. Conta a história de dois jovens opostos: June e Day.

Marie Lu

Essa distopia destaca os Estados Unidos, conhecido agora por sua divisão: República e Colônias. Retrata a beleza das áreas ricas e as ruínas das áreas pobres. Num mundo onde pragas assolam a população pobre e o governo é impiedoso e intrometido, temos June, a jovem menina prodígio da República, e Day, o criminoso mais procurado.

A princípio, os que os separa, é o resultado da famosa Prova aplicada pela República, onde o destino das crianças de 10 anos é decidido pela nota final. June, aprovada, passou a receber todas as vantagens oferecidas. Day, reprovado, deveria ir para o campo de trabalho, destinado a passar a vida inteira trabalhando para o governo. No entanto, algo acontece, e o jovem rapaz se torna um criminoso, no estilo Robin Hood.

Para a República, as Colônias são o principal inimigo. Para nós, leitores, também. Assim como o medo da praga atingir alguém conhecido. O que, de fato, acontece, levando Day a invadir o hospital em busca da cura para o irmão mais novo. Durante a fuga, esbarra com Metias Iparis, irmão de June. Dado como morto alguns minutos depois do encontro, tudo indica que Day o assassinou. Já órfã dos pais, June aceita a missão de caçar o assassino, guiada pelo ódio.

A trilogia

Lu cria uma história cheia de críticas, usando a visão de dois adolescentes. June é um prodígio, mas ser leal à República é uma escolha dela, alimentada por suas convicções ao longo da vida. Day, contudo, tem todos os motivos para odiar ordem e lei e agir contra ela, mas trabalha sozinho, negando parceria com o grupo opositor conhecido como Patriotas.

Um dos pontos mais interessantes do livro é sua construção física: cada capítulo é narrado por um personagem, dividindo-se entre os dois principais; isso abrange a visão dos dois mundos. Além disso, acompanhamos adolescentes, cuja vida os moldou a ponto de misturarem inocência e maturidade de forma natural. June e Day são excepcionais: inteligentes, astutos, habilidosos. Destreza, lado furtivo e mentes perspicazes os tornam faces da mesma moeda.

São duas armas. Mas, também, duas pessoas em descobrimento. Disfarçada de mendiga, June tenta lidar com o luto sem deixar suas emoções atrapalharem a missão. Ela pretende encontrar Day, mas ninguém conhece sua face. Pretende enganá-lo, quando o rapaz enganou praticamente todos os níveis fortificados da República. Demonstrando um lado altruísta, June defende a melhor amiga de Day e acaba por tornar-se amiga de ambos, sem saber a verdadeira identidade do garoto. No curto espaço de tempo antes da descoberta, o luto de June permite encontrar nos dois amigos conforto e afeto. Cria-se, então, um grande dilema.

Quando todas as máscaras caem, os segredos que sustentam a grande República também começam a ruir, revelando um lado ainda mais crítico da autora. Lu, por fim, junta inocência, críticas sociais e problemas políticos realistas. Todas as convicções que tínhamos (isso inclui personagem e leitor) começam a se desanuviar, questionando a veracidade das coisas. Admitir que toda verdade aprendida ao longo da vida não passa de mentiras estratégicas, molda a personalidade dos personagens de maneira gradativa, levando o leitor a acompanhar as mudanças, apoiar e se sensibilizar.

Causar tantas emoções assim é o grande especial da história. Apesar de um mundo completamente diferente do nosso (por vezes, mais difícil), ainda desejamos viver nele, superar os problemas, desvendar os mistérios e desbancar a maldade do mundo. Legend deixa uma ponta solta e instigante para sua sequência, e, já sabendo o que está por vir, garanto que os acontecimentos ficam ainda melhores.

É, de longe, um dos meus livros preferidos. Uma grande distopia que merece sua leitura. Para conquista-lo ainda mais, digo: a Rocco trabalhou lindamente na capa, e Marie Lu soube ser objetiva, nos entregando um contexto instigante, complexo e cheio de reviravoltas anexado em 255 páginas.

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