Leitura Dinâmica: Bidu – Caminhos

Acho que já disse isso algumas vezes, mas vou ser obrigado a repetir: fazer essas tais “graphics” com os personagens do Maurício de Sousa foi uma das ideias mais fantásticas dos últimos tempos nos quadrinhos nacionais. Afinal, muita gente nem conhecia esse modelo de “fazer quadrinhos” e, mais importante ainda, muita gente não conhecia autores fantásticos como a dupla que entregou essa maravilhosa história do Bidu.

Caminhos foi escrita a 4 mãos por Luís Felipe Garrocho e por Eduardo Damasceno, dois mineiros que escreviam no Quadrinhos Rasos (por favor, voltem!) e lançaram Achados e Perdidos, a primeira história em quadrinhos nacional financiada através do Catarse, além de terem produzido outras publicações juntos e separados. A bagagem parece pequena, mas quem conhece os outros materiais deles, como eu, já estava esperando algo de qualidade com o Bidu. E “qualidade” é a palavra chave por aqui.

Sem entregar nada do roteiro, eles conseguiram fazer uma história de “começo” (para a relação entre o Franjinha e o Bidu) impressionante. A cada página, a cada quadrinho, você consegue ver um preciosismo com o trabalho que é muito raro de se encontrar. O traço dos garotos passeia entre o fofo e o sujo, com pinceladas de ternura e “sofrimento”, de uma maneira apaixonante. Tem momentos em que o desenho é extremamente carinhoso, mas a situação na história é muito dura e isso tudo consegue se balancear em uma imagem linda, como a página 12, que se eu tivesse como emoldurava e botava na parede de minha sala.

Além disso, a solução encontrada pelos dois para o desafio proposto pelo Sidney Gusman (“pedi aos dois que os cachorros não falassem”, como ele disse ao vir aqui em Salvador outro dia) foi muito boa e te obriga a prestar ainda mais atenção na história para saber o que está acontecendo, afinal as “conversas” dos canídeos dizem tudo, mas só para quem sabe ler o todo. Isso sem falar da forma como as onomatopeias se encaixam com as imagens, que é muito legal e contrabalanceia muito bem com as situações, gerando cenas lindas -principalmente nos momentos de chuva.

Então nem preciso dizer o quanto eu recomendo essa história, não é mesmo? Para quem já teve uma cachorrinha adotada da rua (como a minha cachorrinha Booba, que infelizmente faleceu esse ano) foi impossível controlar as lágrimas, mas ainda assim terminei a história com uma leveza na alma difícil de explicar.

Que venham as próximas graphics e que o Bidu volte em outra história com esses dois, porque eles mais do que merecem.

Nota: 

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