Especial Dia das Crianças | Turma da Mônica – Laços: o filme live action e a realização de um sonho de criança
Muitos dos nossos leitores curtem ler quadrinhos. Outros tantos curtem filmes de personagens baseados em quadrinhos. Muitos desses leitores que curtem esses filmes, se interessaram por eles porque desde criança sonhavam em ver aqueles personagens que cresceram lendo nas páginas de seus gibis se movendo e dizendo todas as seus bordões, ganhando vida. Outros tantos, só foram conhecer esses personagens já nos filmes, talvez porque não tiveram a oportunidade de vê-los nos quadrinhos ou mesmo porque não os conheciam antes, e somente então, passaram até a se interessar por suas histórias originais, e, assim, acabaram se apaixonando por elas também.
Acontece que, até agora, nenhum desses personagens era genuinamente nosso, brasileiro, que contavam nossas histórias, mostravam nossa cultura. Até agora.
Basicamente toda criança brasileira nos anos 80 (talvez até antes disso) e 90 aprendeu não apenas a ler, mas a tomar gosto pela leitura com os gibis da Turma da Mônica. As histórias sempre divertidas e com elementos que nos relacionava com os personagens se tornaram parte da não só da nossa infância, mas da nossa história.
Os personagens e suas aventuras passaram a ser no quadrinhos aquilo que o Sítio do Pica-Pau Amarelo era na TV. Histórias gostosas, leves e até educativas, nas quais os pais confiavam e que as crianças curtiam muito. Tudo 100% brasileiro.
Quem tem aproximadamente 30 anos dificilmente não reconhece a imagem abaixo, mais do que isso, certamente teve pelo menos um desses itens (se não todos eles):
Mônica, Cebolinha, Cascão, Chico Bento e Magali permearam durante décadas o imaginário (e a alfabetização) de praticamente toda criança das Gerações X e Y. E mesmo aqueles nascidos já em meados dos anos 90 certamente já viram algumas das histórias clássicas, mesmo que tenha sido em alguma questão de interpretação de texto em uma prova de Português.
Apesar de as histórias nunca terem, de fato, ficado obsoletas (já que os roteiristas estão em constante processo de atualização e estão sempre acrescentando itens atuais como personagens e especialmente situações e falas, como gírias), a MSP (Maurício de Sousa Produções) resolveu diversificar seus produtos para além do merchandising (bonequinhos e toda sorte de produtos licenciados, que sempre venderam muito bem). Além das animações que inicialmente foram curtas e depois passaram a séries animadas a serem exibidas na Rede Globo e no Cartoon Network, que surgiram em meados dos anos 90 e continuam por aí até hoje), a empresa resolveu investir também no mercado de mangás, que ganhou muito mercado por aqui em meados dos anos 2000.
Assim, em 2008, surgiu a Turma da Mônica Jovem. Nelas vemos as aventuras da turminha que crescemos acompanhado, só que aqui eles também cresceram e agora são adolescentes. Nessas histórias temos traços que remetem aos mangás e as histórias buscavam atingir o público pré-adolescente (o que aconteceu de forma fulminante). O primeiro número tinha uma expectativa de venda de 60 mil exemplares e simplesmente quase quadruplicou esse número, vendendo 230 mil exemplares. Isso só no primeiro número! Houve edições que venderam mais de 500 mil! Dessa forma, se tornou uma série de quadrinhos entre as mais vendidas do mundo de todos os tempos. Tanto, que após mais de 100 números, entre histórias regulares e especiais, a série continuou com numeração renovada em sua segunda série que teve início no fim de 2016 e continua firme e forte.
Seguindo nessa linha de diversificar o mercado, e sempre de olho nas tendências, em Outubro de 2012 tivemos a primeira Graphic Novel da Turma. O personagem escolhido para dar início a essa nova etapa foi o Astronauta com a bela e emocionante história Magnetar. Mais uma vez um sucesso de vendas, sendo publicado até na Alemanha, Itália, Espanha e França.
Mas é a segunda publicação dessa nova empreitada da MSP que nos traz a esse texto: Turma da Mônica – Laços, escrita e desenhada pelos irmãos Cafaggi, foi publicada em Junho de 2013 e foi altamente aclamada por crítica e público. Tanto, que abriu espaço para mais uma investida da empresa do mestre Maurício de Sousa: filmes live action. Afinal, segundo Sidney Gusman, responsável pelas graphic novels da MSP, “essa é a mais vendida da linha, provavelmente a mais vendida de todos os tempos”, isso ainda lá em 2015 quando foi anunciado que a turminha mais amada do Brasil ganharia um filme.
Foi anunciado essa semana o elenco do primeiro filme live action dessa turma de grande sucesso comercial e de aceitação. Turma da Mônica – Laços, o filme, deve ter seu lançamento coincidindo com as férias escolares (elas ainda existem?!) de Julho de 2018 e será filmado na segunda metade de Dezembro de 2017. As locações ainda não foram divulgadas, mas devem ser em 3 cidades diferentes, da mesma forma que ainda não há informações sobre o elenco adulto do longa.
Já o elenco infantil, aquele que realmente nos interessa, já está definido, e as crianças são tudo aquilo que gostaríamos: carismáticas e super entusiasmadas com a chance que terão. Giulia Barreto (Mônica), Kevin Vechiatto (Cebolinha), Gabriel Moreira (Cascão) e Laura Rauseo (Magali) darão vida pela primeira vez aos personagens sem nenhum tipo de cabeção engraçado ou roupa caricata. Elas foram escolhidas depois de um longo processo que durou seis meses e teve cerca de 7500 crianças candidatadas. E o momento em que elas souberam que foram escolhidas para interpretarem os personagens do Bairro Limoeiro ouvindo do próprio Mauricio de Sousa e da verdadeira Mônica, filha de Mauricio, está no vídeo abaixo. SPOILER: você vai se emocionar!
É claro que devemos guardar as devidas proporções, mas a sensação para nós, gerações X e Y, é mais ou menos como deve ter sido quando as crianças britânicas conheceram Daniel Radcliffe, Emma Watson e Rupert Grint no momento em que estes foram anunciados como Harry Potter, Hermione Granger e Ron Weasley. Ou até mesmo quando o mundo conheceu os hobbits e o Gandalf de Senhor dos Anéis.
Esses personagens são parte da nossa infância. Vê-los ali, ainda que não dentro do contexto de suas histórias, mas já se movendo, falando, sorrindo e nos emocionando é mágico, é a realização de um sonho. Giulia ainda nem deu sua primeira coelhada em Cebolinha, mas já conseguimos ver seu carisma ali, só nesses poucos minutos. Seu sorriso, sua emoção. Bem como a Magali, ainda mais emocionada, da mesma forma que a surpresa do Cascão ao ver Mauricio e receber a notícia é totalmente espontânea, e seu abraço em um ainda atordoado Cebolinha demonstra que já há ali uma amizade que certamente será refletida com muita química em tela.
Talvez para o amigo leitor mais jovem, ou que por alguma razão não viveu com tanta intensidade as aventuras da Turma da Mônica nos gibis, toda essa empolgação com um simples anúncio de elenco pareça exagerada. Acontece que é muito mais do só isso. Esse anúncio é além da realização do sonho de muitas crianças crescidas, um marco na cultura pop do Brasil. Um grande passo. É a primeira vez que uma obra desse tamanho vindo dos quadrinhos nacionais chega ao cinema. É, também, mais um passo na belíssima história de Mauricio de Sousa, grande mestre e inspiração para muitos artistas da área. Esse filme abre as portas para uma nova série de possíveis adaptações nessa área, e também pode trazer novo fôlego para esse mercado, que pode crescer e tem muito potencial com seus talentos desconhecidos do grande público. Além de resgatar uma parte da nossa cultura que pode continuar ganhando novos fãs através das diversas mídias, assim como os quadrinhos estrangeiros tem feito há tantos anos.
É claro que ainda há muita coisa envolvida para que o filme cumpra todas essas promessas e esteja de acordo com tamanha expectativa. Contudo, além da obra de origem super bem sucedida nos quadrinhos e da curadoria (digamos assim) de Mauricio de Sousa, ainda temos o roteiro de Thiago Dottori (VIPs, Os 3, La Vingança e Psi) e supervisão de Luiz Bolognesi que nos trouxe recentemente o surpreendente Bingo, e também esteve envolvido em Como Nossos Pais e cult aclamado (e forte) Bicho de Sete Cabeças. Assim, a probabilidade de não sair algo bom daí é quase zero. Por enquanto é torcer para tudo correr bem e para que possamos ter muitos filmes ainda da Turma da Mônica e que essa ideia se torne inspiração para outras obras seguirem o mesmo caminho, tanto por parte dos quadrinistas como dos investidores e produtoras.
Além de tudo que já foi dito a respeito do filme e da importância de Mônica e sua turma para a cultura pop brasileira, ainda é importante ressaltar que ter essa obra sempre se renovando e reinventando é uma excelente oportunidade para nós, gerações X e Y, levarmos nossos filhos/netos/sobrinhos/afilhados para o cinema e curtimos juntos com eles uma obra que pode emocionar e divertir a todos juntos. Alimentando assim, a criança e nós e a que está junto de nós, aproximando cada vez mais esses laços enquanto o gosto por cultura pop é passado para as novas gerações. Oportunidade de ouro.