Crítica | Sergio

Quantas pessoas você conhece (incluindo você mesmo) que assistiriam a um filme que é a biografia de um diplomata da ONU resolvendo questões políticas e países remotos?

Pois bem, Sergio, filme original da Netflix lançado recentemente, tem essa premissa. E como fica implícito nessa breve descrição, dificilmente ele atrairia a atenção do grande público.

Talvez por essa razão, a produção resolveu dar um espaço maior para o relacionamento amoroso que seu protagonista desenvolve ao longo da história que é contada.

A sinopse pode soar também um tanto vaga: “Sergio relata a biografia de Sergio Vieira de Mello (Wagner Moura), diplomata brasileiro das Nações Unidas que morreu em Bagdá, em 2003, durante um bombardeio à sede da ONU local.”

Pessoalmente, algumas coisas me atraíram para assistir a esse filme: eu nunca havia ouvido o nome desse homem tão importante para a diplomacia mundial (que na verdade, deveria ser um herói nacional); tem o Wagner Moura (que considero um grande ator e um dos brasileiros mais bem sucedidos no cinema mundial) não apenas protagonizando como na produção; e é uma produção original Netflix, que sempre me chama atenção.

Pois bem. O filme tem um ritmo que pode não agradar muita gente, mas é totalmente adequado à história contada. Quando Sergio está em uma zona de conflito, em uma situação mais tensa, o filme representa bem essa situação. Mas no geral, é mais lento. É um drama, afinal.

Além disso, para aqueles que já esperavam esse ritmo ou não se importam com isso desde que a história contada seja boa, podem ficar decepcionado com a escolha de dar uma importância grande demais (talvez) para o romance, e não tanto para as questões políticas e para a forma como o diplomata conseguia resolver os conflitos.

Particularmente, eu acredito que essa escolha não atrapalhou. Ela contribui para a construção do personagem e ajuda a sedimentar sua personalidade passional, sua simpatia, seu apelo para a humanidade sobre a politicagem. Afinal, era essa sua principal característica e o que fez dele diferenciado em seu meio.

Além do mais, a narrativa é muito interessante, misturando os períodos temporais, a princípio de forma um pouco confusa, mas logo nos achamos e conseguimos entender a razão de tudo ser contado assim sem uma linha cronológica padrão.

Wagner Moura está muito bem e quem acompanha seu trabalho consegue ver que ele consegue imprimir muita autenticidade e identidade a seus personagens. Aqui, sua expressão corporal e especialmente seu sorriso são muito marcantes. Em uma cena em específico, ele e a atriz que faz uma cambojana com quem contracena emocionam muito.

Seus colegas de cena não tem desempenho brilhante, mas não comprometem. Exceto pelos momentos mais decisivos do filme, quando Ana de Armas (Carolina) se sobressai nas cenas dramáticas intensas.

Outro aspecto que ajudam muito a entrar no clima de guerra que por vezes é mostrado no filme, além do design de produção que está ótimo, é a fotografia. Excelente, passando por diversos países e locações com muita sensibilidade e nos imergindo na história contada.

A sequência final é bem intensa, com momentos bem emocionantes e fortes. Como é uma história real, há uma mescla entre cenas reais e fictícias.

No geral, Sergio é um bom filme e que merece ser assistido, especialmente para que todos conheçam a história desse grande brasileiro de reconhecimento e prestígio internacional.

Especialmente no atual cenário político brasileiro, onde dificilmente veremos um brasileiro com tal prestígio na política internacional, ainda mais na área de direitos humanos.

Thiago Amaral

Geek inveterado e consumidor assíduo e voraz de cultura pop. Enquanto não está lutando com a Aliança Rebelde, dá aulas de Inglês. Curte Marvel & DC. Retro Gamer. Conhecido no underground como Pai da Alice.

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