Crítica | Ricos de Amor (Netflix)
Os novos romances devem ser valorizados por suas tentativas inovadoras, embora alguns falhem descaradamente. Confesso que, até pouco tempo, tinha receio de tramas que insinuavam finais felizes ou de superação, mas diante da realidade, entendo que a arte tente nos trazer leveza e esperança.
É com essa proposta que a Netflix acrescenta ao seu catálogo a nova comédia romântica brasileira, Ricos de Amor, dirigida por Bruno Garotti e Anita Barbosa.
O longa acompanha o herdeiro de uma grande empresa de tomate, o jovem fútil e mulherengo conhecido como Teto (vivido por Danilo Mesquita, de Segundo Sol e Espectros). Ao comemorar o aniversário na própria festa, embalada pelo DJ Alok, Teto conhece Paula (Giovanna Lancellotti, Tudo Por Um Pop Star), uma estudante de medicina prestes a se formar.
Ricos de Amor é uma típica comédia romântica cheia de clichês, onde seu propósito foge da inovação e se apega a criar cenários que se aproximam da realidade do telespectador. O Brasil é retratado em cada canto, desde praias e comunidades cariocas aos ritmos musicais que movimentam os brasileiros, do funk ao sertanejo. Isso, por si só, é agradável aos olhos, mas o elenco vem para complementar o ponto positivo, um grupo de intérpretes fiéis a seus personagens e carismáticos o bastante para construir cenas divertidas por todo o filme.
Sabemos o quão previsível é um garoto fútil e rico fingir ser pobre para conquistar a garota responsável e com visão de futuro totalmente diferente. Por isso, a trama não se preocupa em diálogos profundos e reflexivos, tendo como objetivo criar ideias mirabolantes para manter a farsa do rapaz.
Igor (Jaffar Bambirra) é o melhor amigo de Teto e ocupa a posição de única pessoa corajosa a dizer verdades necessárias. Estudioso e almejando uma vaga na universidade, se vê diante da aposta do amigo para trocarem de identidade e participarem de uma seleção de emprego na empresa do “Rei do Tomate”. Enquanto procura se esforçar para provar ao pai sua mudança e, simultaneamente, conquistar o coração de Paula, Teto parece se fechar para as vidas ao seu redor, dando pouco importância ao sentimento alheio. O eixo dramático tem pouco espaço para ser trabalhado, cumpre apenas sua função de criar – fáceis – obstáculos pelo caminho.
Para conquistar Paula, Teto perceberá que o dinheiro não alcança tudo. A jovem é firme em seu propósito e se esforça para garantir a residência no hospital em que estagia. Ao lado de duas amigas, com quem divide apartamento, a personagem faz um alerta para o assédio, dentro e fora do ambiente profissional, mostrando algumas dificuldades de expor o assunto por medo de perder tudo que conquistou. Em tempos como esse, onde as mulheres sofrem diariamente com assédios e abusos, é importante salientar o problema, mesmo sendo em curtas cenas.
Alguns paralelos reforçam a vida em contextos financeiros diferentes, como quando Teto pega um ônibus pela primeira vez, ou quando procura Monique (Lellê), moradora da comunidade do Rio de Janeiro, dirigindo um carro caríssimo, abrindo espaço para falar rapidamente da muralha social e as dificuldades da camada desfavorecida da sociedade. Dentro desse cenário oposto, também temos uma família negra lidando com questões financeiras que ameaçam saúde e estabilidade.
Mais uma vez, reforço que, para cumprir a promessa de romance e comédia, Ricos de Amor se segura na boa atuação e trilha sonora, na fotografia e nas referências nacionais. Nomes como Fernanda Paes Leme, Jenifer Dias, Bruna Griphao, Caio Paduan e Ernani Moraes compõe o time, garantindo que, se você der essa chance, pode até não lembrar do longa daqui algumas semanas, mas com certeza sentirá satisfeito em passar seu tempo livre se divertindo um pouco.
Eu, em minha humilde confissão, mal vejo a hora de reassistir, somente porque me trouxe leveza nesse momento tão crucial de nossas vidas.