Crítica |Raya e o último dragão
Assim como aconteceu com Soul e até mesmo com Dois Irmãos, Raya e o último dragão é um ótimo longa de animação que perdeu muito do impacto que poderia causar se não tivesse sido lançado durante a pandemia. Ele até foi adiado e chegou com o esquema de Premier Access no Disney+, mas isso nem se compara à bilheteria e repercussão que poderia ter tido se tivesse sido lançado até 2019, naquele mundo de antigamente (lembra?).
A sinopse é a seguinte: Há muito tempo, no mundo de fantasia de Kumandra, humanos e dragões viviam juntos em harmonia. Mas quando uma força maligna ameaçou a terra, os dragões se sacrificaram para salvar a humanidade. Agora, 500 anos depois, o mesmo mal voltou e cabe a uma guerreira solitária, Raya, rastrear o lendário último dragão para restaurar a terra despedaçada e seu povo dividido.
Como basicamente toda animação da Disney, há muitas alegorias/parábolas/metáforas, chame ou interprete como quiser, mas são lições e mensagens que remetem a um mundo e pessoas melhores. E aqui, pode-se dizer que essa mensagem seria sobre confiarmos mais uns nos outros e vivermos como uma sociedade mais unida e não um enorme ‘cada um por si’.
A questão da confiança aparece diversas vezes na história, cabendo até um paralelo filosófico: o homem nasce bom, a sociedade o corrompe (como diria Rousseau). Afinal, Raya quando criança confia em uma menina de outra ‘tribo’ e é traída. Da mesma forma, podemos notar que Namaari, a tal menina que a traiu, na verdade tem um bom coração mas acaba sendo levada a atitudes questionáveis pelo que seu povo acredita.
Quando se assiste ao filme olhando por esses pontos de vistas de moral, ética e filosóficos, é uma boa história. Não tão original, mas sem dúvida, sempre essencial, especialmente nos tempos em que vivemos. Porém, quando assistidos pelos olhos mais puros de uma criança, é uma grande e emociante aventura.
Raya é uma boa protagonista, não chega a ser forte, decidida e durona como Mulan, está mais para Moana. Aliás, esse é outro ponto interessante dessas novas heroínas Disney que tem motivações mais familiares e até sociais, e nada de romance ou ‘príncipes’. Sisu é uma dragão divertidíssima e que contra-balanceia com a dureza que Raya precisou desenvolver por estar sozinha em um mundo que não dá espaço para inocência.
A propósito, esse é um dos poucos filmes Disney que mostra um tipo de distopia. Há elementos de fantasia que por alguns momentos até lembram a animação Avatar com suas ‘tribos’ e, por que não, até um pouco de Dragon Ball, já que em sua jornada, Raya tem recolher fragmentos de uma esfera para reviver dragões que irão realizar o desejo dos habitantes de Kumandra de viver em paz e harmonia…
Em termos técnicos, a animação é incrivelmente linda. A renderização está se superando cada vez mais e atingindo níveis inimagináveis. É tudo muito ‘real’ mas sem deixar de parecer animação. Detalhes nos cabelos dos personagens, a movimentação e as expressões faciais estão perfeitos. Uma pena que quase ninguém teve a chance de ver isso em uma tela enorme de cinema que deve ter deixado ainda mais lindo. Sorte de quem tem TVs de 4k.
Se você é daquelas pessoas que acha que todo filme Disney tem que ter músicas marcantes estilo Let it go (Frozen), A whole new world (Aladdin) ou The cricle of life (Rei Leão), pode se decepcionar. Não há nenhuma música (ou pelo menos nenhuma memorável). Porém, se isso não for essencial pra você, perceberá que não faz nenhuma diferença na narrativa.
E já que a citamos, em termos de narrativa, na maior parte do tempo o filme é apenas morno. Mas no início há bons momentos de ação e construção da história em si e dos personagens. Mas o melhor mesmo é seu emocionante final. Mesmo sendo quase previsível, não deixa de ser muito bonito, podendo arrancar algumas boas lágrimas.
No fim, o saldo é bem positivo pela história bonita, pelas mensagens importantes e pela beleza da animação. Talvez não seja um filme memorável, não venha a se tornar um clássico. Mas sem dúvida merece sua atenção e vai te divertir e emocionar. Teria sido mais falado e aproveitado em um melhor momento para a indústria (e humanidade no geral).