Crítica | Quem é Você, Alasca? – 1ª Temporada (Hulu)
O primeiro livro de John Green. Sua terceira obra adaptada. Desde o início, teria sido “Quem é Você, Alasca?” o “Grande Talvez” do autor?
Depois dos longas A Culpa é das Estrelas e Cidades de Papel, o escritor John Green pode ver mais uma de suas obras adaptadas, mas, dessa vez, para uma minissérie. Produzida pela Hulu, Quem é Você, Alasca? chegou para nós em oito episódios com média de cinquenta minutos cada.
Fiel ao livro, a minissérie cumpre com seu papel, apesar de que também funcionaria em um longa – como era para ser. Afinal, a história se resume em Miles Halter, um tímido adolescente, que busca aventuras e o seu “grande talvez” no internato onde os pais estudaram. Lá, ao passo que cria laços de amizades profundos, é onde se apaixona pela primeira vez. Esse passo incerto o ajuda a descobrir que o grande talvez nunca foi uma coisa, mas uma pessoa.
Miles (Charlie Plummer) é fanático pelas últimas palavras de grandes ícones e, levado pelas últimas do poeta Fraçois Rabelais “saio em busca de um grande talvez”, vê no internato Culver Creek a chance de transformar sua vida pacata. Talvez acima do esperado, o garoto se encontra diante de inúmeros trotes realizados entre os alunos, bebidas e cigarros ilegais e amigos distintos entre si, mas que, de alguma forma, criam esse forte grupo.
Dentro dele, está a garota responsável por levar o nome da obra. Alasca Young gosta de ser independente, vive contra as regras e a base de mistérios sobre sua seu passado. Considerando que a história se passa entre 2005 e 2006, Alasca é também à frente de seu tempo, com posicionamento e discursos feministas. No entanto, as escolhas para tal defesa dentro dos episódios soam, em sua maioria, não naturais e forçadas.
Assim como Plummer interpreta fielmente o garoto recluso que conhecemos nas linhas do livro, Kristine Froseth (Sierra Burgess é uma Loser e The Society) abandona a faceta de suas últimas intérpretes, sempre a mocinha delicada e amuada. Aqui, ela mostra ainda mais o dom artístico de se transformar em quem quiser. Seu olhar afiado é ao mesmo tempo profundo, conquistando os fãs que, por anos, especularam Kaya Scodelario para interpretar a jovem.
Tão diferente de quem ele sempre foi e do tudo que fez, Alasca mostra a Miles outro universo. Porém, a falta de opinião e escolhas próprias do garoto chegam a ser irritantes, e piora à medida que vai se apaixonando por ela. Miles inúmeras vezes abandona pessoas e coisas por achar que Alasca precisa de sua presença, mesmo que, às vezes, ela diga não. E por mais que entenda onde errou, está disposto a repetir o erro se achar que Alasca “merece” mais. Embora não chegue a ser um abuso, a forma como Miles idolatra Alasca é desconcertante.
Por outro lado, a garota é a típica personagem 8 ou 80. Ou odiamos ou amamos. Nos primeiros episódios, o telespectador está inclinado a odiá-la, afinal, é o tipo de pessoa que ama atenção e tem a habilidade discreta de conseguir tudo o que quer com um simples olhar. Chega a aparentar pura manipulação, deixando os nervos à flor da pele.
A escolha de transformar o longa em uma minissérie permitiu que os minutos se extendenssem a ponto de mostrar outras visões, o por trás das histórias secundárias. Assim como, aos poucos, conhecemos Alasca a ponto de sentir mais afeição, também somos apresentados a Chip.
Mais conhecido por Coronel, é o melhor amigo tanto de Alasca como de Miles. Ele é o equilibrio dos problemas mais fúteis criados por Miles. Sendo negro, pobre e bolsista em um internato majoritariamente de privilegiados brancos, sua estima e posicionamento lutam contra os esteriótipos e preconceitos da época – que, infelizmente, perduram até hoje. Suas cenas são, devido a personalidade descontraída e humorada, dinâmicas e divertidas, o que ajuda a levar os oito episódios sem a sensação de estar sendo preso até o mistério final.
Esse, por sinal, é revelado no primeiro episódio. Uma tática conhecida por convencer o leitor a se interessar pelo motivo que levou àquele destino. A morte de Alasca Young, então, pode até ser o grande mistério para quem assiste ao drama, mas a verdade é que muitas perguntas se fazem no percurso.
Green decidiu que não queria rotular a situação de Alasca, mas a partir do momento onde a série se abre para outro ponto de vista, sem ser o de Miles (o único do livro), entendemos que ela sempre esteve lutando contra uma doença, a depressão, e mascarava suas maiores dores com álcool e cigarro.
Como a maioria das obras cinematográficas, há sempre uma figura mais velha e experiente, capaz de dar conselhos, abrir os olhos para erros e dialogar frases de efeito. Aqui, a mãe do Coronel é a voz da justiça e do perdão, ao passo que o professor do internato é a voz da religião e da tolerância. Ambos tem enorme papel no contexto, dando maturidade e seriedade ao tom juvenil das vidas de Miles, Alasca, Coronel e amigos.
Treze anos se passaram desde os eventos da trama. Apesar de nem sempre soarem naturais, a série Quem é Você, Alasca? é tanto um entretenimento como um alerta. Questões ainda em luta na nossa sociedade são transcritas em meio a uma trilha sonora nostálgica e apresentada por um elenco perfeitamente escolhido que ajudou mais um drama adolescente a se destacar entre tantos outros.