Crítica | Professor Marston and the Wonder Women

Não há dúvidas de que 2017 foi ano da Mulher-Maravilha. Além de ter sido o ano em que a heroína ganhou seu primeiro filme, sendo este o primeiro filme de herói a ser protagonizado por uma mulher, a personagem se fez presentes em outras obras e inúmeras discussões sobre temas de máxima importância.

Contudo, 2017 não foi o primeiro ano em que a heroína se provou relevante no contexto da luta feminina por direitos iguais, e uma obra lançada neste ano deixa isso exposto de maneira magistral.

Professor Marston and the Wonder Woman (Professor Marston e as Mulheres-Maravilhas) é um filme que conta a história de William Moulton Marston, também conhecido pelo seu pseudônimo Charles Moulton, um dos inventores do polígrafo e criador da Mulher-Maravilha, e de suas esposas Elizabeth Marston e Olive Byrne.

Muitos conhecem a Mulher-Maravilha e o seu histórico nos quadrinhos. Sendo sempre um símbolo de representatividade e empoderamento, a personagem sempre esteve associada a movimentos feministas. E isso não é algo gratuito, já que a personagem não conseguiu seu destaque pelo simples fato de ser uma mulher. O longa explora as mais profundas fontes de inspiração, as mulheres, o contexto e os eventos que levaram Marston a criar a personagem.

William Marston, interpretado por Luke Evans (Trilogia O Hobbit), era um professor que sempre se dedicou ao estudo da psicologia com ênfase na psiquê feminina. Sua teoria mais famosa, a DISC (Dominância, Influência, Estabilidade e Conformidade), sempre esteve presente em suas aulas e foi uma das maiores bases para a criação de sua personagem.

Esta teoria serve de base para o roteiro do longa, que insere o conceito dentro de sua linha narrativa abordando questões condizentes com os estágios da tese, tal qual Marston buscou fazer em suas histórias da Mulher-Maravilha. O recurso é muito bem executado, especialmente nos momentos em que expõe a sua metalinguagem.

Já as Mulheres-Maravilhas, Elizabeth Marston (Rebecca Hall) e Olive Byrne (Bella Heathcote), representam toda a admiração e respeito que Marston nutre pelas mulheres. O longa apresenta de maneira muito competente argumentos que questionam diversas noções de costume e sociedade, muitas vezes colocando em xeque o que consideramos normal e apresentando contrapontos que nos fazem questionar diversos paradigmas.

O trio de protagonistas possui uma química muito interessante, tornando a relação entre os três dinâmica e intensa. O filme trabalha muito bem as relações dos personagens entre si, desenvolvendo-as de maneira individual de modo a justificar e tornar crível o sentimento nutrido por estes.

Enquanto trabalha esta relação peculiar, o longa vai contando diversos detalhes que refletiram na criação e nas histórias da Mulher-Maravilha. Sem pudor de abordar as diversas fontes que inspiraram a personagem, incluindo a pornografia, o filme nos mostra de onde vem sua estética, sensualidade e personalidade dominante.

O longa aborda de maneira muito competente como o pensamento avant-garde de William e suas companheiras chocaram a sociedade. Além da relação dos três, a sua heroína também foi objeto de diversos questionamentos por uma sociedade conservadora e puritana.

Angela Robinson (True Blood), que assina o roteiro e dirige o longa, entrega uma visão admirável desta relação que gerou uma das personagens mais importantes da cultura pop. O filme ousa ao mostrar um lado um tanto obscuro das inspirações para a personagem, como o fetichismo, as obras pornôs que eram ilegais à época e outros elementos que podem ser mal vistos por um público despreparado. Contudo, Robinson mostra muita segurança ao tratar destes temas sem trazer a “carga negativa” que muitos poderiam atribuir.

Com um roteiro coeso e bem escrito, o filme consegue não só ser um excelente entretenimento como uma ótima fonte de informações e curiosidades acerca de uma personagem tão importante no imaginário popular. O longa mostra que a Mulher-Maravilha não foi apenas uma personagem que pretendia ensinar empoderamento e direitos iguais a uma sociedade retrógrada, mas também foi um fruto de paixão.

Compartilhe isso: