Crítica | O Matador

O Matador é o primeiro longa-metragem original da Netflix produzido no Brasil. Por ser uma produção da queridinha do streaming, grandes expectativas começaram a surgir diante do filme. Agora lançado, podemos dizer, Para a felicidade de todos, essas expectativas são atendidas.

O Matador reúne o melhor do cinema brasileiro em uma produção impecável. A produção é dirigida por Marcelo Galvão e protagonizada pelo português Diogo Morgado. O filme usa como inspiração o estilo narrativo de outra grande obra brasileira: Grande Sertão – Veredas. Assim como no livro, os acontecimentos do filme são narrados por um homem misterioso. Além da literatura brasileira, é notório que O Matador bebe de outras fontes, em especial os filmes de faroeste americano.

O enredo gira em torno de Cabeleira (Diogo Morgado). Abandonado ainda recém nascido, ele é encontrado e criado por Sete Orelhas, um matador experiente que vai embora sem deixar explicações. Ao se tornar um adulto, Cabeleira se dirige à civilização para encontrar o homem que o criou. Ao chegar na cidade, ele encontra um lugar sem lei comandado por um francês milionário e impiedoso.

É a partir desse momento que a atuação do lusitano Diogo Morgado começa a brilhar. A ingenuidade e a selvageria do personagem é muito bem explorada. Por ter sido criado nas matas, o personagem não conhece o que é dinheiro e nem mulheres. Ao entrar em contato com o francês, o mundo de Cabeleira começa a se expandir e ele se torna um Matador, seguindo os passos do seu mentor Sete Orelhas.

A “civilização” do interior de Pernambuco é bem representada, facilitando a imersão do telespectador no filme. A caracterização e a linguagem dos personagens também apresentam uma excelente qualidade. Apesar do grande destaque ser Cabeleira, todos os outros personagens do filme brilham e entregam atuações competentes e fiéis à época retratada.

O roteiro do filme foi escrito de maneira magistral, tornando o longa coeso e prazeroso de assistir. Os quase 100 minutos de filme passam de maneira incrivelmente rápida e deixam o telespectador sedento por mais! Apesar do desenvolvimento inicial ser um pouco arrastado, ao chegar à civilização, o filme ganha ritmo e se aproxima dos westerns americanos. O Matador poderia ser facilmente protagonizado por Clint Eastwood ou John Wayne.

O que diferencia a produção brasileira dos filmes americanos são os temas retratados no filme. A religiosidade presente na região e o período histórico são bem respeitados em  sua representação no filme. Um personagem fundamental na trama, Quatro Olhos, tem ligações profundas com o Candomblé. Os temidos cangaceiros também marcam presença no longa e protagonizam cenas cruéis.

Por falar em cruel, essa é uma palavra que define bem o tom escolhido para o filme. O Sertão é caracterizado de forma fiel e sem censuras. A violência presente no filme é totalmente explícita e selvagem, adicionando fidelidade ao período retratado. O massacre de inocentes por disputas de terra, o fortalecimento da extração de minérios e a caça aos cangaceiros são alguns dos “recheios” do filme.


Conclusão:

O Matador é um filme brutal que coloca em evidência uma região e período histórico pouco explorados pelas produções brasileiras. Sem as caricaturas habituais vistas nas novelas em horário nobre, o longa-metragem entrega uma representação fiel e que faz jus a época retratada. As atuações do filme estão excelentes e os elementos de produção como cenário, figurino e trilha sonora apresentam o selo de qualidade Netflix.

O Matador é o melhor do cinema brasileiro em sua melhor forma! Espero que outras produtoras de filmes se espelhem na obra e passem a entregar mais materiais de qualidade similar.

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