Crítica | Esquadrão Suicida (Sem Spoilers)
Se tem uma coisa que podemos ter certeza é que a onda dos filmes baseados em quadrinhos está longe de passar. Agora temos dois Universos estabelecidos nos cinemas com uma tonelada de filmes programados até a próxima década, o que é motivo de alegria para alguns e descontentamento para outros. Mas, fato é que os filmes de quadrinhos têm sido um dos gêneros mais rentáveis da indústria cinematográfica atual, e o estúdio que tiver oportunidade vai querer se aproveitar da tendência.
E assim, a Warner Bros. segue lutando para estabelecer o Universo da DC nas telonas. Depois de dois filmes (Homem de Aço e Batman Vs Superman: A Origem da Justiça) que dividiram opiniões, o estúdio traz seu terceiro filme, desta vez com uma equipe de vilões, o Esquadrão Suicida.
O Esquadrão Suicida é uma equipe de super vilões, montada por Amanda Waller (Viola Davis), para executar missões de alto risco e de caráter duvidoso. Basicamente, uma equipe formada por integrantes altamente dispensáveis para a sociedade para fazer serviços que ninguém mais iria querer fazer. A equipe apareceu pela primeira vez nos quadrinhos em The Brave and the Bold #25, em 1959.
Dirigido por David Ayer, Esquadrão Suicida teve muita exposição nas mídias, seja por fatos bizarros da equipe, seja pela campanha de marketing que foi se transformando à medida que o lançamento do filme se aproximava ou até mesmo pela curiosidade do público em ver a nova versão do Coringa, interpretada por Jared Leto, que nos prometeu algo incrível.
O longa começou se vendendo como um filme de ação denso e sombrio, com um trailer embalado por uma versão sinistra do clássico I Started a Joke dos Bee Gees. Posteriormente, a campanha mudou de tom, e as cores tomaram conta dos trailers que eram embalados por músicas empolgantes, como Bohemian Rhapsody do Queen, e recheados de piadinhas, o que levou muitas pessoas a questionarem se eles estavam decidindo o tom do filme ao longo da produção.
Agora, com o filme lançado, fica claro e evidente que eles ainda não conseguiram decidir qual o tom do filme.
A equipe composta por Rick Flag (Joel Kinnaman), Arlequina (Margot Robbie), Pistoleiro (Will Smith), Magia (Cara Delevigne) e etc. não é tão divertida quanto os últimos trailers apresentam, tampouco é sinistra como os primeiros prometiam. Poucos personagens recebem um desenvolvimento digno, chegando a soar forçado por diversas vezes. Em nenhum momento é possível enxergar um vínculo sendo formado entre a equipe para justificar a união dos vilões por um bem comum. Alguns membros são completamente dispensáveis, ao ponto de sequer nos lembrarmos deles após o filme.
Mas, se tinha algo que o público estava curioso para ver no filme era o Coringa. O personagem foi alvo de diversas polêmicas, desde suas primeiras imagens promocionais que chocaram o público com um visual bem diferente do já conhecido (Precisa falar das tatuagens?). Jared Leto, no entanto, se mostrou muito disposto a interpretar um bom Coringa e procurou demonstrar isso fazendo inúmeras declarações espantosas sobre sua preparação para o papel. O ator passou um tempo em um manicômio, enviou presentes bizarros aos colegas de elenco, se mostrou surtado nos sets de gravação, declarou estar com dificuldades de sair do personagem ao fim das filmagens e mil outras coisas que foram ditas para nos fazer acreditar que ele realmente estava encarnando o Príncipe Palhaço do Crime. Contudo, parece que toda essa preparação não foi o suficiente para que Leto fosse um Coringa digno de nota, ou sequer um bom Coringa. O personagem ficou extremamente desinteressante, e em momento algum conseguimos notar a real insanidade do emblemático vilão. Ironicamente, este foi um Coringa sem graça. O que é uma pena. É triste dizer que ele não teria feito falta caso não estivesse no filme.
O roteiro também não é nenhuma obra prima. Desprovido de qualquer originalidade se preocupa somente em levar a história para frente e buscar meios de unir a equipe. Em raros momentos nos pegamos intrigados com os eventos ou até mesmo preocupados com os personagens que acompanhamos. A sensação que fica é de um roteiro que foi escrito mais pela obrigação da existência do filme do que uma boa ideia que levou à realização do filme.
Depois de tantas notícias para aumentar o hype do longa, como a Cara Delevigne andando nua na floresta para se preparar para a Magia, ou o Jared Leto estar tão surtado que deu ratos de presente, ou que só queria ser chamado de Coringa no set, o mínimo que se esperava do filme era que tivessem personagens bem desenvolvidos e um enredo competente. A sensação que ficou é de que a Warner tentou criar um hype para despertar o interesse por um filme que, no fim das contas, não tinha alma.
Fica claro que eles tentaram usar a fórmula de um certo estúdio famoso por filmes de quadrinhos, usando músicas famosas dos anos 70/80 para embalar as cenas e empolgar. Mas o artifício é usado de maneira exagerada, com trocas de música a cada cena durante boa parte do filme, parecendo mais um grande clipe de uma lista do Spotify do que um filme de momentos empolgantes.
Esquadrão Suicida é aquele tipo de filme que tenta fazer um pouco de tudo e acaba não fazendo nada bem. As piadas não possuem timing, a ação é boa, mas não há nada que já não tenhamos visto, os personagens são rasos e alguns poucos cativarão o público. O destaque na equipe fica para o carisma da Arlequina, interpretada por Margot Robbie, que apesar de ter mostrado uma personagem interessante, sua relação com o Coringa soa forçada e não desperta qualquer sentimento em quem assiste.
O filme certamente não destruirá o Universo DC nos cinemas, mas tampouco empolgará os fãs para os próximos lançamentos.