Crítica | Elite – 3ª Temporada (Netflix)

Em 2018 chegou à Netflix uma série com premissa pouco inovadora, mas que de alguma forma conquistou o público. Talvez seja o fato de ser espanhola, ou, melhor dizendo, não-norte-americana, e discretamente tenha inserido detalhes de outra cultura, atraindo maior atenção. Podemos dar créditos as boas atuações, tão intimistas que os personagens quase são reais em nossa memória. De qualquer forma, Elite sobreviveu ao terceiro ano se aproveitando do mesmo drama, sensualidade e mistério sangrento que desafiaram o telespectador a desistir.

Desde sua primeira temporada, acompanhamos uma história não linear entre futuro e presente, unido a uma cena de pós assassinato para aguçar a curiosidade. Repetir a estratégia ano após ano cairia na mesmice, então o seriado, criado por Carlos Montero e Darío Madrona, precisou ir além do grande mistério e entregar conteúdo envolvente. Apesar das tramas independentes ajudarem o telespectador a não desistir, a inserção de novos personagens se mostrou desnecessária e sem graça, agregando em nada.

Fomos apresentados à série com o mistério de quem matou Marina (María Pedraza), no ano seguinte, uma rede de manipulações para incriminar inocentes. Sempre em busca de provar algo, a terceira temporada é a caça incessante para colocar atrás das grades o verdadeiro culpado; caso contrário, fazer justiça com as próprias mãos pode vir a calhar.

Após ser acusado de assassinato pela ex-namorada, Polo (Álvaro Rico) perdeu todas as amizades e qualquer tipo de apoio, exceto o de Cayetana, que agora é julgada por fingir ser rica. O pequeno e inesperado grupo de alunos, composto pelos herdeiros mais aclamados da elite e os dois bolsistas restantes, se dividem entre seus dramas pessoais, relacionamentos conturbados e o desejo de justiça.

Para trazer novidade dois novos personagens surgiram no colégio, ambos afortunados, mas cada um a sua maneira. Enquanto um deles se apresenta como o possível novo pretendente de Nadia, com todos os quesitos para ser aprovado por sua família, Yeray tenta chacoalhar um pouco da vida da marquesa Carla (Ester Expósito).

Inicialmente, a introdução dos dois rapazes nos faz crer que os diretores surfaram nas ondas atuais de paradigmas impregnados na sociedade e como pequenos gestos podem descontruí-los, procurando fugir da perfeição. No entanto, com o desfecho do último episódio, a concepção é de que a única serventia deles foi em ser suporte para o desenvolvimento das personagens femininas, Carla e Nadia.

A marquesa salta de pontos altos para baixos em questão de minutos, nos puxando para seus sentimentos conflituosos e as questões familiares que influenciam, principalmente, na denúncia sobre Polo. Passando por situações constrangedoras para salvar o negócio da família, Carla se vê forçada a criar laços com Yeray, encontrando soluções que prejudicam sua saúde mental e física. Se por um lado isso é ruim para sua personagem, para nós, a torna a principal razão para continuar.

Já Nadia (Mina El Hammani), sempre buscando se calar para não causar caos, começa a enxergar força em si mesma e exibe a própria independência nos pensamentos e ações, o que acaba criando cenas com diálogos interessantes e um empoderamento feminino frente a rivalidades. Com todo o grupo prestes a se formar, decisões importantes são colocadas na mesa diante os riscos de rejeição.

Devido as idas e vindas da história, sabemos que o próximo crime acontecerá na festa de formatura. Até lá, pequenos conflitos balançam relacionamentos e fortalecem outros. Há uma busca óbvia em extinguir qualquer tipo de rivalidade entre as meninas, todo pequeno confronto acaba criando novos laços. Apesar de interessante a preocupação em certos detalhes, alguns soam falsos a ponto de se tornarem insignificantes. É como pontuar todos os problemas do mundo e querer ressignificá-los em oito episódios.

Samuel (Itzan Escamilla) vinha sendo foco nas duas últimas temporadas, mas passa a dividir espaço com outros personagens, deixando de lado as longas cenas cansativas já conhecidas pelo público fiel.

Onde Samuel mais influencia, talvez seja onde menos devesse. Afinal, seus comentários e seus dilemas morais, principalmente na busca por justiça, se mostram hipócritas em boa parte do tempo.

Em liberdade, Polo é exposto a pequenas inúmeras vinganças enquanto nada parece ser feito para acalmar o coração dos amigos e familiares. Majoritariamente os personagens agem e verbalizam uma carga de rancor que persegue os demorados minutos.

De fato, em seu fim, parte do nosso cérebro quer acreditar que houve justiça, mas, se bem analisado, é melhor descrito como “acerto de contas”. Dito isso, o final mediano não compensou a superficialidade das problemáticas anteriores e ainda deixou a dúvida sobre o que é realmente ser justo, com você, com os outros e com os acontecimentos.

Mesmo tendo tudo em mãos para encerrar de forma, no mínimo, digna, os boatos da Netflix é de que uma nova temporada vem aí, com novos personagens e, espero eu, mais criatividade e mesmo melodrama repetitivo.

Compartilhe isso: