Crítica | Bad Boys Para Sempre
Quando o primeiro Bad Boys foi lançado em 1995, Will Smith estava no auge do sucesso como o protagonista de Um Maluco no Pedaço. Mas ainda dava os primeiros passos na grande tela. Esse foi seu primeiro grande filme, e ele só viria a estrelar o primeiro blockbuster no ano seguinte (mesmo ano do fim de sua série de TV) com Independence Day.
Martin Lawrence, então, era ainda menos conhecido. Ainda não tinha tido nenhum grande papel, e só apareceu para o grande público nesse filme.
Os anos 90 tiveram alguns bons filmes de ação na sua primeira metade, e contava com astros consagrados no gênero. Van Damme, Bruce Willis, Schwarzenegger e Steven Seagal, entre outros, reinavam absolutos e nos entregaram alguns clássicos, seja pro bem ou pro mal. Mas uma coisa era comum a todos: o exagero.
Bad Boys surgiu bem no meio dessa onda e não poderia ser muito diferente disso. Na cadeira de direção, trazia um estreante nas grandes produções hollywoodianas: Michael Bay.
O diretor acabou ficando muito famoso nos anos seguintes por trazer em suas produções sequências de ação frenéticas e explosões. Muitas explosões.
E era exatamente o que o público da época queria e esperava. O sucesso foi tamanho, que em 2003 o longa ganhou uma sequência. E ali muita coisa já havia mudado. Will já era um super astro de cinema (tendo inclusive uma indicação ao Oscar de Mlehor Ator, por Ali), Martin Lawrence já havia estrelado com sucesso alguns bons filmes de ação e de comédia, e Michael Bay já havia dirigido os blockbusters Armageddon e Pearl Harbor.
Com a chegada dos anos 2000, a pegada de Michael Bay pode ficar ainda mais evidente. O público curtia ainda mais sua megalomania e curtia o exagerado apelo sexual com corpos desnecessariamente expostos e takes ‘incômodos’. Além disso, com o salto no orçamento de 23 milhões de dólares do primeiro filme para 130 milhões no segundo, agora praticamente tudo era possível para saciar a sede de adrenalina.
O sucesso foi enorme. A bilheteria de 273 milhões praticamente decretou que uma franquia havido nascido. Mas por alguma razão, não foi o que aconteceu. Will, Martin e Bay seguiram suas carreiras bem sucedidas (alguns mais do que os outros), 17 anos se passaram e nada do terceiro filme.
Até que, finalmente, chegamos em 2020 e aqui está Bad Boys Para Sempre. Tudo que foi dito até aqui se faz necessário, visto que é preciso contextualizar tudo isso para entender o que o filme traz e o que representa.
A história desse filme se passa 17 anos depois do segundo, o mesmo tempo que se passou na realidade. Dessa forma, o mundo mudou da mesma forma na ficção, na forma de se fazer cinema e na sociedade. O mundo de 2020 é muito diferente do de 2003 e mais ainda de 1995.
Além disso, Michael Bay não está à frente dessa produção. Ele apenas faz uma pequena cameo no filme, que só nota quem conhece seu rosto. Portanto, por mais que os novos diretores, o duo Bilall Fallah e Adil El Arbi, tenham seguido muitas das ideias do seu predecessor, muita coisa não cabe mais nos nossos dias e/ou não agradam mais ao público como antes, desde que não estejamos falando de um filme que se assuma como galhofa ou trash.
Dessa vez, temos um filme muito mais balanceado na ação, sem exageros desproporcionais, nada que não caiba em um filme de ação. Por exemplo, as cenas em câmera lenta, as perseguições, tiroteio e até as famigeradas explosões estão lá. Só que nada é desnecessário ou que você sinta vontade de abandonar a sala tamanho o absurdo. São, digamos, pequenos absurdos. Marcas de um filme de ação, como dito antes.
Alguns pontos interessantes a serem observados na história, é que a tecnologia se faz muito presente nesse filme. Inclusive é um dos aspectos que marca com clareza a obsolência que os personagens de Will e Martin estão atingindo.
Nesse filme, também há espaço para uma boa história, situações dramáticas com as quais nos identificamos. Há um bom espaço para Will Smith mostrar sua extensão artística.
Mas não se engane, o filme não deixou de ser Bad Boys. A dinâmica entre os protagonistas ainda é a mesma. Há diversos momentos cômicos impagáveis, uma das principais marcas da franquia.
Essa é a grande sacada de Bad Boys Para Sempre. O filme soube envelhecer. Não vemos os protagonistas agindo como se ainda fossem jovens no auge de suas vidas. Marcus, o personagem de Martin Lawrence, se torna avô logo no início do filme. Mike, personagem de Will Smith, amadureceu muito e tem uma jornada de evolução dentro do próprio filme.
Se há algo que destoa nesse filme, é o seu último ato. A sequência final que se passa no México, parece até ter sido feito por outros produtores ou diretores, ou talvez tenha havido intromissão do estúdio.
Tudo que o filme conseguiu fazer muito bem de forma atual até então, quase vai por água abaixo com sequências de ação clichês, diálogos ainda mais clichês e efeitos visuais mal feitos. Contudo, o restante do filme é tão divertido e autêntico, que não é apagado pelo fraco final.
No fim das contas, Bad Boys Para Sempre é um bom filme de ação para quem assistiu aos primeiros em sua época e cresceu como ser humano e como apreciador de filmes, que não se contenta mais com mais do mesmo sem sentido. É um filme para se divertir mas sem ser apenas o massavéio com velhos. Agrada aos antigos e aos novos fãs de filmes de ação. E ainda deixa brecha para um novo fôlego para a franquia. Veremos o que a bilheteria dirá.