Crítica | Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore
Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore é o terceiro filme da franquia derivada do universo de Harry Potter. Com mais de duas horas de duração, o longa dirigido por David Yates, que assinou a franquia Harry Potter desde a Ordem da Fênix, dá continuidade às aventuras de Newt Scamander (Eddie Redmayne), um magizoologista que carrega em sua maleta diversas criaturas fantásticas que ele descobre e acolhe no mundo da magia ao longo das suas viagens.
Na trama principal, o professor Alvo Dumbledore (Jude Law), cada vez mais ciente dos planos do poderoso bruxo das trevas Gellert Grindelwald (Mads Mikkelsen) de dominar o mundo mágico, convoca o magizoologista Newt Scamander para liderar uma equipe de bruxos, bruxas e um confeiteiro trouxa em uma missão perigosa. Ao longo dessa jornada, eles encontram novos animais fantásticos e entram em embate com a crescente legião de seguidores do grande vilão da comunidade bruxa. Enquanto o mundo bruxo está cada vez mais dividido e sob constante ameaça, cabe a Dumbledore decidir quanto tempo ficará à margem da guerra que se aproxima.
Um ponto muito interessante do filme é que em seu plano de fundo há a revelação de que o mundo não bruxo também está passando por um tensionamento devido à polarização política e a ascensão do fascismo na Alemanha dos anos 1930. Enquanto os trouxas lidam com suas próprias crises, o mundo bruxo está no meio de uma corrida eleitoral para nomear o próximo supremo mago da Confederação Internacional dos Bruxos. Nessa disputa, Vicência Santos (Maria Fernanda Cândido) é a Ministra da Magia Brasileira e compete com Liu Tao (Dave Wong), o Ministro da Magia chinês. Embora a brasileira seja a favorita, o discurso popular de Grindelwald se aproveita do cenário dividido e tenta ser uma terceira via.
Com a mudança de Johnny Depp para Mikkelsen, o espectador verá um Grindelwald mais comedido e calmo. É claro que uma troca como essa traz uma perda de linearidade muito grande para a franquia, mas a atuação precisa de Mikkelsen faz a mudança valer a pena. Com um comportamento sutil e menos caricato, Grindelwald se torna um vilão mais intenso e misterioso, e o ator evidencia as nuances do personagem com seu olhar enigmático, sedutor e cruel.
O roteiro de Steve Kloves e J.K. Rowling dessa vez é bem melhor elaborado que o do seu antecessor Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald e não pecou com a mesma falta de coerência e excesso de subtramas mal exploradas. A história então é bem amarrada e redonda, sendo uma simples jornada desde a convocação de Newt Scamander por Dumbledore até o dia da nomeação do supremo mago da Confederação Internacional dos Bruxos.
Apesar do excesso de CGI na construção de cenários e texturas, o figurino e direção de arte do filme merecem reconhecimento, pois são impecáveis assim como os anteriores, fazendo com que o elenco bem preparado brilhe ainda mais em seus respectivos papéis. Embora a personagem de Maria Fernanda Cândido não tenha muito tempo de tela, as referências à sua brasilidade são um ponto interessante, seja na paleta de cores do seu figurino ou na identidade visual de sua campanha eleitoral.
O longa também presenteia os fãs mais antigos da franquia com diversos momentos e referências dignas de arrepios, as cenas no icônico Castelo de Hogwarts e no vilarejo próximo de Hogsmeade são pontos altos do filme, acompanhados de uma trilha sonora que traz uma sensação de nostalgia para o espectador.
De forma geral, Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore consegue um desempenho razoavelmente bom e funciona por ter um roteiro mais amarrado e um elenco brilhante que possui bastante sinergia em cena. As atuações de Jude Law e Mads Mikkelsen merecem todo o destaque, pois costuram bem a complexa relação entre Dumbledore e Grindelwald e o subsequente conflito entre os dois maiores bruxos dessa geração que está apenas começando. Acredito que a franquia ainda tem muito potencial, no entanto, o seu futuro depende essencialmente das decisões que serão tomadas por J.K. Rowling e sua equipe.