Review | Harry Potter and the Cursed Child (Sem Spoilers)

Para muitos, incluindo este que vos escreve, Harry Potter é muito mais do que uma saga, mas uma história que nos acompanhou durante um bom período da vida, uma aventura que vivemos ao longo da nossa infância/adolescência.

Toda uma geração acompanhou Harry e seus amigos por seus anos em Hogwarts e em sua luta contra Voldemort, assim como Harry e sua turma acompanhou os seus leitores pela infância/adolescência e todas as suas fases. Por diversos momentos, à sua maneira, Harry Potter era um espelhamento do momento em que vivíamos em nossas vidas. A vida de um adolescente é complicada, o sentimento de não ser compreendido é complicado, bem como se sentir a margem e tantas outras coisas que acontecem neste turbilhão de sentimentos. E foram com estes livros que muitas pessoas dividiram seus sentimentos.

A saga Harry Potter durou sete livros que foram escritos entre 1997 e 2007, começando com Harry Potter e a Pedra Filosofal e finalizando com Harry Potter e as Relíquias da Morte. A escritora, J.K. Rowling, sempre afirmou que a série teria apenas sete livros que não iria além disso. E assim foi.

Harry Potter e as Relíquias da Morte finalizou a saga amarrando todas as suas pontas, contando um epílogo que se passa 19 anos depois dos eventos do último livro e terminando com a frase “Tudo estava bem.”

E de fato, tudo estava bem, até que resolveram mexer com o que já tinha acabado de maneira tão boa.

Eis que anos após o fim da saga, surgem conversas que Harry Potter ganharia uma peça de teatro, que se chamaria Harry Potter and the Cursed Child (Harry Potter e a Criança Amaldiçoada, em tradução livre). A notícia rapidamente se espalhou e o caos se instaurou entre os fãs. Muitos se perguntavam do que se trataria essa série, se seria considerado canônico, ou simplesmente mais uma história só para encher os olhos dos saudosos. Mas com o desenrolar do projeto, Harry Potter and the Cursed Child foi oficializado pela própria J.K. Rowling como a oitava história de Harry Potter e portanto parte do cânone.

Por ser uma peça exibida, por enquanto, apenas na Inglaterra, o resto do mundo ficaria de fora deste momento, e foi pensando nisso que o roteiro foi lançado em livro, para que o mundo pudesse conhecer a tão aguardada oitava história do garoto que sobreviveu. E é aqui que começarei a tecer meus comentários, sem spoilers, sobre o livro/roteiro/peça.

Apesar do rótulo “A oitava história de Harry Potter”, a peça foca muito em Albus Severus Potter, filho do Harry com a Gina. O livro começa exatamente após o epílogo do sétimo livro, quando Harry, Gina, Rony e Hermione deixam seus filhos na estação 9 3/4 (9 1/2 nos livros), para mais um ano em Hogwarts.

Para ficar longe dos spoilers, falarei do enredo de maneira extremamente superficial para que não se estrague nenhuma surpresa.

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Harry, Albus e Gina

O livro nos apresenta Albus Severus Potter, Rose Granger Weasley e Scorpius Malfoy, a próxima geração. E o sentimento ao começar a ler o livro é de pura nostalgia, alegria e empolgação. Estamos voltando à Hogwarts anos depois de nossa última visita, com personagens novos e mais uma aventura pela frente. Mas será que valeu a pena?

Harry Potter and the Cursed Child, apesar de se dizer a oitava história parece algo extremamente distante do que foram os sete livros. É sabido que o roteiro não foi escrito pela J.K. Rowling, mas sim por Jack Thorne, premiado roteirista de teatro. A criadora da saga apenas aprovou o que fora criado por Thorne, e por diversos momentos me pergunto se ela chegou a ler o que foi escrito, diante do quanto o livro destoa do universo criado por ela.

O livro começa com um potencial enorme, e durante muitos momentos você sente que todos os seus desejos estão sendo realizados, você está tendo mais um ano em Hogwarts, mais aventuras no mundo bruxo e ainda por cima está conhecendo novos personagens. Albus Severos e Scorpius Malfoy foram excelentes adições para o universo de Harry Potter e apresentam um potencial até mesmo para uma nova série de livros.

Draco e Scorpius Malfoy

Draco e Scorpius Malfoy

Mas, os problemas começam quando o livro se distancia dos novos personagens para evidenciar sua dependência nos eventos anteriores da série para se sustentar. Ao mesmo tempo que Thorne tenta cria algo novo para Harry Potter, ele se mostra pouco ousado tocando uma trama totalmente dependente dos eventos dos livros anteriores. E aí todos os nossos sonhos desabam.

J.K. Rowling, ao criar o seu universo o fez com um imenso cuidado para que as coisas funcionassem de forma coesa. Resolver os problemas com mágica é fácil, assim como criá-los, e para isso a escritora sempre se preocupou em criar regras para que o mundo seguisse da melhor maneira. No entanto, Thorne parece passar por cima dessas regras em diversos momentos, para criar uma história extremamente batida e pouco surpreendente.

O que nas primeiras páginas começa com um potencial incrível, cheio de expectativa, acaba por se tornar um mar de decepções, potenciais desperdiçados, diálogos piegas e até mesmo momentos de vergonha alheia.

Os personagens já conhecidos, por diversos momentos parecem tão diferentes do que conhecemos que nos causa uma imensa estranheza. O que mostra que apesar do potencial de Throne, ele não possui o mesmo esmero que Rowling teve ao criar o seus personagens. Às vezes fica difícil conectar o personagem que estamos lendo ao que acompanhamos ao longo de sete livros, fica difícil reconhecê-los. Um Personagem específico, que fora da máxima importância nos sete livros, foi reduzido a um alívio cômico de maneira tão esdrúxula que até ofende os fãs. Tudo parece uma fanfic mal feita.

O vilão do livro é só mais um dos problemas, não falaremos muito dele para não dar spoilers, mas é só mais uma prova de como Thorne não teve ousadia para criar, fazendo algo muito pouco inventivo.

Até mesmo a própria premissa do livro não condiz com as regras estabelecidas pela própria Rowling, destoando de momentos brilhantes de roteiro que a escritora colocou ao longo de sua série. Mas, abordaremos mais sobre isso em uma futura resenha com spoilers.

Mas nem tudo é tão detestável no livro. Há sim coisas boas, principalmente no começo, em que vamos sendo contextualizados no universo de Harry Potter 19 anos depois. Há também algumas passagens, ideias e aparições ao longo da história que empolgam. A relação entre Harry e Albus é complexa, tensa e interessante, o que só mostra o potencial que o livro tinha…

Harry Potter and the Cursed Child encheu o coração dos Potterheads de expectativa, mas ao longo de suas páginas foi fazendo com que o coração do fã batesse mais fraco e mais fraco. O livro possui sim coisas boas, a leitura é divertida, tem seus momentos empolgantes, mas os problemas são tantos que não dá pra considerá-lo a oitava história de Harry Potter. No fim das contas, o livro/peça é apenas um fanfic que teve uma enorme campanha de marketing e um investimento absurdo.

Se fosse para ser desse jeito, era melhor ter ficado só com os sete.

Two-star-rating

 

Pedro Cardoso

Editor do Capacitor, apaixonado por games, filmes e literatura sci-fi/fantástica.

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