Resenha | Star Wars – Dívida de Honra

Quando a Disney apagou os quase 20 anos de universo expandido de Star Wars após a compra da Lucasfilm, muitos fãs se revoltaram com a atitude. Contudo, é compreensível que a empresa, que investiu US$4 bilhões para adquirir este universo, queira espaço para criar seu próprio cânone, especialmente se considerarmos o fato de que uma nova trilogia viria em um período que fora amplamente explorado no universo expandido anterior. Apagar para evitar conflitos é a escolha mais lógica. Assim, começaram a surgir algumas poucas obras que foram permeando o vazio que ficou no cânone de Star Wars.

E foi no auge deste vazio que surgiu a Trilogia de livros Aftermath, escrita por Chuck Wendig, prometendo contextualizar o universo de Star Wars após os eventos de O Retorno de Jedi. Marcas da Guerra (Clique aqui para ler nossa resenha) foi o primeiro volume da trilogia que se tornou grande objeto de curiosidade dos fãs.

Apresentando um novo grupo de personagens, que seriam os olhos do público no universo, o primeiro volume da trilogia não teve uma recepção muito calorosa. Apesar de ter pontos interessantes e personagens com potencial, o livro falhou tanto em trazer uma história verdadeiramente empolgante quanto em contextualizar o leitor no status quo do universo. Ademais, os eventos do livro não traziam um verdadeiro impacto para o universo, tampouco para os filmes. As conexões que podem ser feitas entre o livro e o filme são mínimas (algo corriqueiro nas obras do universo expandido).

O livro apresentou um personagem que estava prometido para ter certo destaque no vindouro Despertar da Força. Esta promessa foi cumprida em partes. Temmin Wexley, um dos protagonistas do livro está no filme como um dos pilotos da Resistência. Contudo, sua relevância beira a de um figurante. Outro ponto que muitos sentiram falta foi a participação de personagens consagrados como Luke, Han e Leia. Obviamente, Wendig teve de escrever o primeiro livro com uma série de restrições para proteger o futuro de seus personagens e evitar confusões no novo cânone.

Vale dizer que Marcas da Guerra, publicado no Brasil pela Editora Aleph, não foi um livro ruim. No entanto, com a expectativa criada para um novo cânone de Star Wars, muitos esperavam algo maior do que foi entregue. Apesar de não ser excepcional, o livro traz uma aventura com cara de Star Wars e abre espaço para a continuação extremamente competente que é Dívida de Honra.

Temmin “Snap” Wexley (Greg Grunberg) – personagem cuja adolescência é contada na trilogia Aftermath

Diante da decepção com Marcas da Guerra, o lançamento de Dívida de Honra, livro 2 da trilogia, foi cercado de desconfiança. Contudo, a sequência consegue acertar em quase todos os pontos onde seu antecessor errou. A história é muito mais interessante, os personagens estão mais críveis e personalidades consagradas nos filmes são parte fundamental da história.

Neste segundo volume, é possível notar que foi dada uma liberdade muito maior a Wendig. Podendo aprofundar-se ainda mais em seus personagens, além de trabalhar com personagens icônicos como Leia Organa, Han Solo e Chewbacca, o livro se torna uma experiência muito mais rica. Algo que certamente tem “cheiro de Star Wars”.

Neste livro vemos Norra Wexley, seu filho (Temmin), e sua recém-formada equipe em busca de ex-agentes imperiais. Contudo, as coisas mudam quando a Princesa Leia pede pessoalmente a Norra que, junto a sua equipe, resgate seu marido, que desapareceu em sua tentativa de libertar Kashyyyk, planeta natal de Chewbacca.

Enquanto o primeiro livro tinha a ingrata missão de “trabalhar com pouco” e apresentar ao leitor novos personagens, em Dívida de Honra a aventura começa sem amarras. O livro traz uma história mais direta, coesa e empolgante. A busca por Han Solo é um mistério intrigante e suas consequências nos trazem eventos memoráveis e impactantes para a saga. Dívida de Honra não usa os personagens clássicos como pontas ou easter-eggs. Nesta história eles são personagens de suma importância, cuja participação permeia todo o livro.

Em meio à narrativa, os interlúdios cumprem o papel de contextualizar um pouco mais do que ocorre no universo, além de trazer detalhes importantes para a narrativa. Deste modo, o livro consegue manter a fluidez ao longo de seus capítulos, sem cansar o leitor.

A equipe de Norra teve muito mais espaço para desenvolvimento. As relações estão mais sólidas e críveis e personagens como Sinjir Rath Velus, o ex-agente de fidelidade do Império, conquistam o leitor trazendo personalidades complexas e carismáticas. Já como alívio cômico, Senhor Ossudo, o robô reprogramado por Temmin, cumpre o seu papel de maneira ainda mais competente na continuação.

Contudo, a personagem que mais chama atenção para é a Grã-Almirante Rae Sloane. A personagem, que assume o comando do Império após a morte do Imperador Palpatine, traz uma trama recheada de mistério, intrigas políticas e reviravolta. Apesar de ser colocada como a vilã desta trilogia, esta não é a forma como a vemos em seus capítulos. Todas as motivações, a afeição da personagem pelo Império, são sempre expostas de maneira concisa e crível, o que só torna a personagem mais interessante.

Outro ponto alto em Dívida de Honra é a forma como o livro aborda a política. Com uma presença extremamente marcante, Leia Organa nos ambienta nas tramas políticas e nos conflitos que surgiam em meio à instauração da Nova República. Através de Leia podemos conhecer um pouco do contexto político que futuramente resultaria na batalha entre a Resistência e a Primeira Ordem.

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Em termos gerais, Dívida de Honra é um livro muito superior ao seu antecessor. Contudo, isso é pouco para descrever o quão bom o livro é. Com a participação de Han, Leia, Chewbacca, Ackbar, Mon Mothma e Wedge Antilles, este livro é uma das primeira obras do novo cânone que realmente entrega algo próximo do que é apresentado nos filmes.

Apesar de ser um segundo volume de uma trilogia, e portanto um ponto de transição, o livro consegue entregar uma história fechada e completa ao mesmo tempo em que prepara o tabuleiro para o desfecho da trilogia, Empire’s End (O Fim do Império, em tradução livre), ainda não lançado no Brasil.

Para aqueles que se decepcionaram com Marcas da Guerra, Dívida de Honra é um ótimo motivo para dar uma segunda chance à trilogia. E para aqueles que ainda não conhecem a trilogia, vale a pena enfrentar Marcas da Guerra, que é um bom livro, para aproveitar Dívida de Honra e o vindouro terceiro volume.

Dados do livro:

Star Wars: Dívida de honra – Trilogia Aftermath – livro 2
Autor: Chuck Wendig
Editora: Aleph
Ano de publicação: 2017
464 páginas

O livro pode ser adquirido no Amazon clicando aqui.

Pedro Cardoso

Editor do Capacitor, apaixonado por games, filmes e literatura sci-fi/fantástica.

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