Deuses Americanos – S01E01 | Perfeita combinação de fã service com atualização da obra

O primeiro episódio da série que adapta o romance de Neil Gaiman, Deuses Americanos, estreou no último domingo (30) nos EUA e nesta segunda, primeiro de maio, no Brasil pela Amazon Prime. Criada por Bryan Fuller (Hannibal) e Michael Green (Blade Runner 2049),  a série nos leva a um novo mundo com uma espiral de referências, novos detalhes e um pouco de loucura.

Logo na cena de abertura do primeiro episódio, somos levados ao passado pelas palavras de Mr. Ibis (Demore Barnes), contando sobre a primeira incursão de vikings na América. Sem conhecer a terra e sem poder avançar por elas, os desbravadores decidem voltar para casa. Mas, como voltar se não tem vento para levá-los? “Vamos orar aos deuses, eles proverão”, mas será que ele pode ouvir tão longe de casa? Talvez sacrifícios sejam necessários para ter a atenção de um deus.

Após a belíssima sequência dos vikings na América, somos levados para conhecer nosso protagonista, Shadow Moon (Ricky Whittle), que está prestes a sair da cadeia. Alguns dias antes de sua soltura, Laura Moon (Emily Browning), esposa de Shadow, morre em um acidente e ele é solto mais cedo para ir ao funeral. No caminho para a cidade onde vivia com Laura, Shadow conhece um ardiloso senhor que se auto denomina Mr. Wednesday (Ian McShane). Este senhor, como diria o narrador da Sessão da Tarde, vai colocar a vida de Shadow de cabeça para baixo.

A combinação de Ricky Whittle e Ian McShane foi muito acertada pela direção de elenco, é perceptível a química entre os atores. A primeira conversa entre os dois é de uma naturalidade  extremamente convincente. Apesar de Mr. Wednesday falar bastante, ele não domina toda a cena, justamente por Shadow não ser do tipo falador, suas respostas ficam no olhar, nos gestos, nos acenos e Wednesday responde a isso de maneira natural.

Os lugares que vamos visitando ao longo do episódio vão demonstrando uma palheta de cores a ressaltar a aura mística que cerca toda a produção, afinal, estamos falando de deuses. O tom acinzentado da cena inicial é bruscamente quebrado pelo vermelho fechado do sangue, uma combinação impactante e bela. A estética da série é uma assinatura do showrunner Bryan Fuller, que sabe como ninguém filmar violência. A cena também demonstra como as adições extras ao material do livro foram colocados de maneira a não estranhar aqueles que já leram  e impressionar os novatos.

Sangue, aliás, é algo bastante presente neste episódio. Sangue do nariz pingando de um personagem que acabou de levar um soco, sangue do sacrifício feito, sangue em forma de uma tonalidade de um vermelho escuro que lembra um órgão do corpo pulsando e nos lembrando que estamos vivos e o que estamos vendo é real.

Até os momentos mais “estranhos” da história se tornaram não só, bem executados no que tange à direção de David Slade (30 Dias de Noite), mas também marcantes, hipnotizantes e belos de assistir. Como a cena da deusa Bilquis (Yetide Badaki) que deseja ser adorada no mundo moderno. Cena esta que, está muito parecida com a do livro.

O fan-service também está bem presente no episódio. Uma música aqui, um personagem acolá, fazem os fãs do livro se sentirem em casa. Ao mesmo tempo que novos elementos são introduzidos na história para torná-la mais atual, como o personagem mais datado do livro (lançado originalmente em 2001), Technical Boy (Bruce Langley), o deus da tecnologia.

No livro ele é um garoto, gordo, cheio de espinhas, que usa uma roupa que lembra a de Keanu Reeves em Matrix (1999) e tem os olhos verdes no mesmo tom de um monitor de computador. Na série, ele ainda tem o aspecto juvenil, mas, agora, ele pode ser descrito como um daqueles gênios da computação do Vale do Silício que abandonaram o estereótipo nerd e abraçaram a modernidade em sua forma mais plena.

Até o ambiente em que encontramos o deus foi atualizado, no livro temos uma limusine preta, na série é um ambiente “clean e minimalista”, típico de produções como Ex-Machina (2015), que tratam de tecnologia e seus jovens gênios que a fazem estar sempre em atualização.

Entre as falas tiradas exatamente como estão no livro e novos momentos que só acrescentaram à história, Deuses Americanos começou com o pé direito. Elenco afiado, direção fluida e momentos nonsense, fizeram deste um grande episódio. Esperamos que os próximos também estejam à altura de um deus.

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