Crítica | Alien: Covenant

Ridley Scott é um diretor de renome cujo currículo, apesar de não ser tão extenso, possui grandes produções como Gladiador (2000), Perdido em Marte (2015), Blade Runner (1982), Alien, o Oitavo Passageiro (1979), entre outros. No ano de 2012, Scott entregou o controverso Prometheus, que contava a trajetória da nave estelar que leva o mesmo nome do longa e sua tripulação, cujos personagens eram interpretados por um elenco de peso, com nomes como Noomi Rapace, Michael Fassbender, Guy Pearce, Idris Elba, Logan Marshall-Green e Charlize Theron. A trama se passa na segunda metade do século XXI, centrando na tripulação da Prometheus enquanto eles seguem um mapa descoberto entre os restos de várias civilizações antigas da Terra e são levados a um mundo distante em direção a uma civilização avançada. A tripulação procura as origens da humanidade, porém encontra uma ameaça que pode causar a extinção da espécie humana.

Desde que Ridley Scott, juntamente com James Cameron, tiveram a ideia do projeto, a proposta seria que o quinto filme da franquia fosse um predecessor de Alien (1979), porém, para evitar repetição de sugestões, o desígnio foi alterado para uma história separada, que precede de Alien, mas não está diretamente ligado à franquia, o que acabou soando um tanto quanto estranho para a crítica e principalmente para os fãs do clássico, já que além da coerência do roteiro não fazer sentido ao universo estabelecido, a probabilidade da ideia de acontecimentos de Prometheus é quase nula.

Tendo essa linha temporal problemática, o que mais se esperava de sua continuação, fosse que um singelo “retcon” acontecesse, explicando melhor as decisões tomadas e quem sabe efetuar um tratamento nos erros, porém, “Alien: Covenant” aparentemente até tenta fazer um curativo nas feridas causadas por tantos problemas, mas infelizmente falha e cria mais algumas feridas.

O filme possui um grande problema no desenvolvimento de personagens. Assim como Prometheus, no longa-metragem deste ano somos apresentados à uma nova tripulação que não tem sinergia, coerência ou sequer qualquer aprofundamento que os torne interessantes ou que faça com que o telespectador se importe com algum deles. As motivações são muito mal explicadas, as personalidades são superficiais e os arcos de todos na trama, sem exceção, são absolutamente gratuitos. Inclusive, há a tentativa de “emular” a imagem de Ripley (Sigourney Weaver), protagonista dos filmes originais, na personagem Daniels, mas falham com maestria nisso também.

O roteiro é problemático, não há nexo, harmonia ou conformidade nas decisões e rumos que a trama assume. A nave Covenant tem como objetivo colonizar o planeta Origae-6, mas durante a viagem que demoraria mais de 7 anos, eles se deparam com uma mensagem vinda de um planeta que estava muito mais próximo e decidem então irem até lá explorá-lo, decisão esta tomada em minutos, sendo que passaram 10 anos estudando Origae-6 para que pudessem ter a certeza de que o mesmo estava afável a ser colonizado. Esse tipo de inconsistência é o mais comum no filme, assim como momentos onde após a perda de um companheiro de equipe, um casal resolve tomar banho e ter relações.

A direção tenta mesclar o sci-fi de Prometheus com o terror de Alien: O Oitavo Passageiro e a ação de Alien, o Resgate, mas acaba se perdendo, deixando o clima do filme não só cansativo como inconsistente e descontínuo. Diálogos muito mal desenvolvidos tentam dar profundidade para dois personagens que compartilham da mesma condição, trazendo uma certa discussão filosófica de evolução, mas a pobreza da cena deixa a conversa nada mais do que pífia.

O tom mais denso, voltado para um ar de “terror” que havia sido prometido até se faz presente, mas não é de nenhuma forma satisfatória. Não há tensão, a história não faz com que se crie nenhuma expectativa. A premissa do personagem central e sua motivação é gratuita e ao mesmo tempo confusa, fica difícil comprar uma ideia ruim quando a única obrigação que o roteiro deveria ter era conseguir balancear o tom do filme e explicar as situações de forma simples e inteligente, mas carece. A fotografia é escura demais, chegando a incomodar o excesso de filtros aplicados. Sendo assim, é possível entender que não existam distribuições em 3D.

O que era para ser o melhor elemento do filme, o Xenomorfo, acaba sendo um dos piores. Apresentam novas espécies da criatura, mas o tempo de tela deles é muito pouco, todas as cenas em que tentam criar uma tensão com ele no contexto, é mal aproveitada. O personagem que leva (de forma errônea) o nome deste filme, mal se faz presente na trama, deixando a impressão que a existência do Alien no filme é mera obrigação.

Alien: Covenant, é um filme desinteressante e cansativo, não se desafia, não inova e faz com a narrativa ao ser posta de lado com a do primeiro filme da franquia pareça deteriorada e insatisfatória. Quando foi discutido que Prometheus teve seus problemas por conta das mudanças de roteiristas, o argumento se fez válido até certo ponto. Mas em sua continuação, realmente não há o que se pensar além da conclusão de inconsistência que se faz presente nos trabalhos de Ridley Scott, que aparenta não entender o universo que ele mesmo criou.

Anderson Rodrigues

Paulista, 28 anos, profissional de TI, viciado em cinema e debates filosóficos sobre cultura pop em geral, saudosista de quadrinhos e animação japonesa, fã de filmes de heroizinho e nas horas vagas se veste de Homem-Aranha tentando ser o amigão da vizinhança.

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