Capacitor Entrevista | Daniel dos Reis, criador do portal MeuPS4

O Capacitor teve a oportunidade de entrevistar Daniel dos Reis, criador do portal Meu PS4.

O Meu PS4 já se tornou a principal referência de conteúdo referente ao Playstation 4 no Brasil. Com essa iniciativa, seguimos nosso plano de mostrar todas as faces da indústria de jogos.

Confira a entrevista abaixo:


O Capacitor – Qual a história de criação do portal? Como surgiu a ideia de criar o MeuPS4?

Daniel dos Reis: Na época, em 2013, eu trabalhava como desenvolvedor de softwares em uma empresa que desenvolve soluções para área de saúde. Naquele ano, eu estava muito descontente com minha função e me sentia absolutamente frustrado com meu trabalho. Eu não via propósito ou mesmo uma razão para continuar trabalhando naquilo. Cada dia era um verdadeiro martírio. Eu não vivia, me arrastava. Então amadureci a ideia de trabalhar com aquilo que fizesse sentido e que aliasse propósito + diversão. E naquele mesmo ano, por volta de fevereiro, eu já tinha em mente que gostaria de trabalhar com videogames…e a escolha natural foi me concentrar no PlayStation 4, que sequer existia. Optei por me dedicar ao console da Sony por já ter uma “história” com PlayStation.

Ganhei um PlayStation em 1998, comprei o PlayStation 2 em 2003 – naquela época, com 16 anos, arrumei um emprego só para comprar o videogame -, em 2008 eu consegui comprar um PlayStation 3. Em fevereiro de 2013, por meio de uma conferência de imprensa, a Sony revelou que estava trabalhando no PlayStation 4. Me recordo de ter assistido a transmissão através do site Baixaki Jogos. Gostava muito do site e achei que seria interessante criar um em que o leitor pudesse encontrar assuntos específicos sobre o console. A página deveria ser um lugarzinho que as pessoas pudessem chamar de “seu”. Então rascunhei alguns nomes e veio a ideia de Meu PS4.


Com esta ideia em mente, comecei a pensar nas principais características e módulos, aproveitando o meu conhecimento em programação. Mas ainda assim levou um tempinho para o projeto ganhar corpo. Já que eu chegava do meu trabalho muito desmotivado e a única coisa que eu gostaria era descansar e jogar videogame. Já passava o dia todo na frente de um computador e, no tempo vago, passar mais outras horas era angustiante. Por isso, em Abril de 2013, dois meses após começar o projeto, ele efetivamente foi ar. De forma bastante modesta em uma versão beta. Ainda passei outros dois meses (maio e junho) fazendo testes, melhorando alguns aspectos e traçando toda estratégia. Só em junho que ele começou a ser alimentado efetivamente.

O Capacitor – Na época de criação do portal, você tinha ideia de que teria a proporção que tem hoje? Já existia pretensão de crescimento na época?

D. R.: Não havia bem uma projeção objetiva, mas eu já havia traçado um plano para que ele chegasse sim a ser grande. Durante as fases de planejamento eu fiz levantamentos, estudos e tracei metas de crescimento. O objetivo sempre foi que ele se tornasse auto-sustentável. Na verdade eu já tinha experiência com a criação de outros sites.

Além de videogames, eu já havia criado um site sobre futebol, onde eu e um amigo falávamos sobre as partidas no estilo crônicas, analisando os jogos e tecendo opiniões. Também já havia criado outro site de notícias regionais. Um outro blog mais pessoal onde eu tentava escrever mais sobre a vida e, um pouco antes, também já tive um outro site de videogames. Toda essa bagagem, frustrações, erros, acertos e experiências foram úteis. Além disso, fui estudando outros temas como marketing digital e na forma como as pessoas se engajam em conteúdos. O Meu PS4 foi fruto de muito estudo e planejamento.

O Capacitor – Foi difícil chegar até onde você chegou? Qual a maior lição que você tirou/tira dessa jornada?

D.R.: Apesar de ter traçado um plano, foi bem difícil. Ao longo de todo este processo você acaba se deparando com muitas coisas e imprevistos. Eu por exemplo descobri que minha comunicação era   bastante   falha,   e   para   chegar   aonde   eu   gostaria,   era   necessário   me   reconstruir pessoalmente. E além disso, eu ainda trabalhava naquele emprego detestável. O que mais me frustrava era não poder me dedicar completamente ao projeto.

Por isso, em novembro de 2013 eu tomei a importante decisão de sair do emprego formal. Uma decisão  bastante  arriscada,  já  que  o  site  operava  um  deficit  e,  naquele  momento,  minhas previsões  de  crescimento  haviam  estagnado.  Mas  a  decisão  estava  tomada:  pedi  demissão, encomendei um PlayStation 4 (já no lançamento) e refiz os planos. Também comecei um novo curso na faculdade – totalmente oposto da minha formação (Ciência da Computação) – e passei a criar conteúdos diários. Logo depois, no começo 2014, eu comecei a trabalhar como professor de computação no Instituto Federal. Pode parecer uma troca de “6 por meia dúzia”, mas uma decisão absolutamente acertada.

Comecei  a  melhorar  minhas  habilidades  de  comunicação  –  já  que  a  docência  exige  isso  –  e  a organizar  melhor  meu  tempo.  As  coisas  começaram  a  andar,  finalmente.  Mesmo  que  ainda estivesse em deficit, já havia deixado de andar para trás e caminhar a passos lentos para frente. Disso  você  aprende  que  é  necessário  traçar  um  objetivo,  mas  você  precisa constantemente ajustar  sua  rota,  às  vezes  dar  passos  para  trás  para  poder  corrigir  o  percurso.  Não  continua sendo fácil atualmente, mas está melhor que antes.

O Capacitor – Quais  são  as  maiores  dificuldades  de  ser  um  produtor  de conteúdo para Web no Brasil?

D.R.: Acho que encontrar um “ponto de inovação” é o mais difícil. Produzir conteúdos na verdade é bem  simples. Com um celular hoje em dia você consegue atualizar seu canal no YouTube, alimentar suas redes sociais ou até seu site. Temos todas as ferramentas que precisamos com poucos cliques.

Mas o mais difícil é produzir “algo de valor” para o público. Eu sempre me pergunto se o texto que estou fazendo é útil para o leitor….e muitas das vezes não é. O que me obriga a refazer todo o trabalho ou mesmo buscar outra ideia.

E  claro  a  concorrência. Tem sempre alguém fazendo algo. É preciso encontrar um nicho ou oferecer algo de melhor qualidade que todos os demais. Caso contrário, você será só mais um. Existem milhares de blogs, sites, canais por aí. O que você tem a oferece de diferente?


O Capacitor – Muitos  brasileiros  sonham  com  uma  carreira  na  Indústria  de 
Jogos. Alguns sonham com o setor de Desenvolvimento, outros com  o  cenário  de  E-Sports  e  outros  com  a  produção  de conteúdo (YouTube). Qual a dica que você dá pra essa galera? Existe algum processo de seleção para ser redator do site?

D.R.: É difícil para mim apontar um caminho. Não me vejo como uma pessoa tão boa assim ou que me destaque tanto. Mas o que eu percebo é que muitos querem crescer rápido e conquistar milhões de seguidores nas  redes  sociais.  E não é bem por aí. Você precisa trabalhar muito, mas muito mesmo para conquistar uma pequena fatia de espaço. Não existe mágica. Se você  observar youtubers gamers famosos, você vai notar que alguns estão na estrada há muitos anos… eles não surgiram da noite pro dia.

É claro que você pode “acertar” no alvo logo de começo, mas é bem improvável que isto aconteça. E eu vejo que existe três pilares fundamentais para você chegar aonde você deseja. Foco, disciplina e resiliência. Você precisa se manter concentrado no seu objetivo. Você precisa respirar sua ambição diariamente, se manter motivado a chegar ao que quer. Em resumo: assuma um compromisso com seu objetivo.

Para tanto, você precisa de disciplina militar. Eu tomo eu mesmo como exemplo. Tem dias que eu acordo e não queria levantar da cama…mas eu me levanto. Você se questiona e se pergunta se  vale a pena  tanto esforço…são várias as tentações diárias: cama, Netflix, videogame,  etc. Seja rigoroso com você mesmo e tenha disciplina em trabalhar. E por fim, você vai ter que se adaptar diariamente. Todos os dias as coisas mudam e você precisa estar disposto a mudar também. Mas perceba que não é mudar o foco, mas mudar a estratégia, as abordagens.

Eu vejo isso diariamente. Por  exemplo, somos muito focados em  gerar engajamento via Facebook, mas o “Marquinho” muda seus algoritmos com uma grande frequência. Então o que dava resultado na semana passada, não funciona hoje. Isso acaba por frustrar um pouco. Sempre converso com minha competente equipe de redes sociais. Toda semana as coisas mudam. E temos apenas duas saídas:

1) Reclamar que o Facebook mudou as regras – já que muito do trabalho é perdido

2) Entender o que houve e como podemos responder as mudanças com rapidez e produzir mais e melhor.

Ainda bem que a minha equipe também compartilhar de valores e foco. Sempre optamos por nos adaptar. Já sobre as vagas de redator: nós estamos sempre dispostas a recebermos pessoas boas. Quem estiver a fim de contribuir conosco é só nos mandar um e-mail para contato@meups4.com.br.

E cabe aqui menção a minha equipe: são pessoas multidisciplinares. Temos Analistas de Sistemas, Engenheiros,  Jornalistas,  Doutora  e  informática.  Todas  ótimas  pessoas,  as  quais  tenho  muito orgulho.

Equipe do MeuPS4 na BGS17


O Capacitor – É  possível  viver  bem  apenas  com  a  renda  de  um  portal  bem sucedido?

D.R.: Depende do que você entende por “portal bem sucedido”. Hoje é muito mais difícil do que em 2013  por  exemplo,  quando  o  site  foi ao ar. Mas  não  é  impossível  e  leva  bastante  tempo. Mas o importante não é olhar para renda, mas sim, se perguntar: você está disposto a lutar por isso?

Leva-se tempo para  se  estabelecer como um site. Você até pode conquistar um sucesso repentino por algum artigo ou texto viral, mas o importante é: como eu posso fazer com que as pessoas acessem meu site diariamente?

E depende ainda do que você entende por “viver bem”. O Meu PS4 por exemplo, operou em deficit até o final de 2014, quando finalmente nós conseguimos “empatar as contas”. Ou seja: o site já se pagava sua própria hospedagem, sem que eu precisasse colocar do meu bolso. Mas veja que isto não é “lucro”. Foi apenas ponto de equilíbrio. Foi só um ano depois, no final de 2015, que veio a se estabelecer um pouco mais. E agora, mais do que nunca, é mais difícil ainda se equilibrar nas contas, porque nossos competidores são de alto nível.

Basta você se perguntar porque eu investiria publicidade no Meu PS4 e não em outros sites de mais  renome? É um mercado voraz. Você precisa mesmo mostrar que seu site tem valor e justificar o investimento. Isso no Brasil ainda é pouco consolidado, muitas empresas ainda preferem os formatos tradicionais de mídia ou optam por “nome” ao invés de representatividade.

O Capacitor – O portal MeuPS4 já se tornou a maior referência nacional no quesito  Playstation  e  uma  grande  referência  internacional. Qual é o próximo passo para o site? Existe algum projeto sendo pensado?

D.R.: Temos sempre metas ousadas. O que seria da vida sem conquistas? A curto prazo queremos aumentar o número de acessos, conquistar novos patrocinadores e atrair mais público. No médio prazo  queremos  figurar  entre  os  sites  de  videogames  mais  respeitados  do  país.  E  no  longo, termos algum tipo de reconhecimento internacional. Para isso, estamos reajustando nossa rota, trabalhando forte na entrega de melhores conteúdos e tentando produzir mais sem perder a qualidade.


O Capacitor – O MeuPS4 foi o único portal brasileiro que cobriu a Playstation 
Experience 2017. Como foi essa experiência?

D.R.:  Às vezes  eu me flagro pensando em como isso é meio doido. Há alguns anos eu via pela internet e tudo parecia bem distante. Hoje nós estamos lá dentro do show. É  uma  loucura absurda!

Em 2017 muitas coisas  aconteceram. Nós fomos convidados para PSX. Também já fomos convidados para E3 em outras duas oportunidades. Além disso, trabalhamos em parceria com a equipe local na organização de eventos como E3 Experience, onde convidamos nossos leitores para assistirem a E3 nos cinemas brasileiros, com direito a brindes, pipoca e tudo mais.

É uma emoção sem igual. É onde todos nossos esforços se justificam e faz valer a pena todas as noites em claro.

O Capacitor – Como você enxerga o cenário gamer no Brasil?

D.R.:  Acho que o mercado vem amadurecendo bastante sabe. Hoje eu já percebo que muitas empresas enxergam potencial nos jogadores como consumidores também. Você vê que temos muitos eventos de videogames que conta com empresas de variados setores.

Mesmo com crise de empregos e econômica, o gamer ainda faz um esforço para comprar um jogo novo ou um videogame… que não são baratos. Agora é trabalhar na expansão do mercado.

Mas o que ainda pesa são os impostos altíssimos nos videogames. Apesar de existirem movimentos para reduçãoda carga tributária, ainda falta vontade política. E isso deve levar muito tempo para acontecer, mas seguimos firme..

O Capacitor – A preferência de plataforma já é evidente, mas, qual o seu jogo favorito?

D.R: É difícil escolher um jogo só. Eu tendo a escolher os jogos de PlayStation 1, pois foram muito significativos naquela época da minha vida. Então eu cito vários importantes, por gerações…acho que fica mais justo.

PlayStation 1: Final Fantasy VIII, Tony Hawk’s Pro Skater 2, Resident Evil 3 e Gran Turismo 2.
Playstation 2: GTA 3, God of War, Call of Duty, Tony Hawk’s 4.
Playstation 3: Uncharted 2, The Last of Us, Call of Duty MW2, Call of Duty Black Ops 2 e GTA V.
Playstation 4: Horizon Zero Dawn, NieR Automata, Uncharted 4 e The Lost Legacy.

Daniel, Bruna (Redatora) e Mike Mejia (Produtor de Call of Duty: WWII)

O Capacitor – O próximo PlayStation chegará nos próximos dois ou três anos. O que será feito com o portal? O domínio será modificado ou um novo site será criado?

D.R.:  Já temos nosso plano traçado. Por motivos de posicionamento ainda é bem cedo para fazermos qualquer revelação, mas vamos continuar sim, e de várias maneiras.

 

Ruancarlo Silva

Apaixonado por Jogos, principalmente por Indies! Você me encontra lá no Twitter: @ruancarlo_silva

1 Response

  1. fevereiro 21, 2018

    […] Curiosidade: foi a partir daquele dia que este site começou a ser criado. Sabia disso? O Meu PS4 começou a ser pensado exatamente em 20 de fevereiro de 2013 e foi ao ar em abril daquele mesmo ano. Se quiser saber mais sobre a história do site, clique aqui. […]

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